Há pouco mais de um mês, o parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, conta com nova atração: uma área de piquenique destinada à realização de festas infantis. Os eventos são particulares e custam de R$ 3,4 mil a R$ 25 mil, dependendo do número de convidados.
Batizado de "Vila Picnic", o espaço é equipado com bancos, mesas e quiosques. A área, que tem aproximadamente 1.200 m², está cercada desde julho, com acesso a partir de um único portal com identificação da empresa responsável pelos serviços.
Segundo o consórcio que há pouco mais de um ano administra o parque, o contrato de concessão assinado com o governo permite a exploração comercial dos espaços, inclusive com o loteamento de determinadas áreas para atividades pagas.
"Vale lembrar que receitas como esta são revertidas em manutenção e melhorias na infraestrutura do parque", informou por meio de nota o consórcio Reserva Parques, também responsável pela gestão dos parques Cândido Portinari, anexo ao Villa-Lobos, e da Água Branca.
Procurada, a Cia do Tomate, que é responsável pela Vila Picnic, disse que tem contrato de três anos com o parque e que investiu R$ 1,2 milhões no espaço. Ainda segundo a empresa, o acesso à área só é restrito nos dias em que há algum evento – por enquanto, só uma festa foi realizada no local.
A empresa diz ainda que outras áreas de piquenique estão disponíveis para os visitantes do parque, uma delas a 150 metros da nova atração. A reportagem verificou, no entanto, que os locais têm equipamentos deteriorados e alguns até inutilizáveis, com vários bancos de madeira quebrados, por exemplo.
Desde que foi concedido à iniciativa privada, em setembro de 2022, o Villa-Lobos ampliou o número de atrações pagas como forma de gerar receita para a concessionária. Nesse período, diversos eventos com grande público foram realizados no local, entre eles festivais de música e de gastronomia.
A multiplicação dos eventos e atividades com cobrança de ingresso gerou preocupação em membros do conselho gestor do parque, já que áreas grandes são mantidas cercadas por longos períodos devido a essas ações.
"A concessão não se refere exclusivamente aos eventos e seu público específico", pondera Maria Helena Bueno, presidente da SAAP (Associação dos Amigos de Alto de Pinheiros), em carta enviada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
No documento, a associação reuniu respostas a uma enquete feita com frequentadores do parque. Entre as opiniões, percebe-se descontentamento do público com a falta de ações para melhorar os equipamentos existentes no Villa-Lobos, como banheiros, bancos e playgrounds –todas obrigações previstas em contrato.
No início da semana, o ajudante de serviços gerais Angelito dos Santos, 33, aproveitava o calor e o dia de folga para passear com esposa e cinco filhos no parque. Após alguns minutos de caminhada, no entanto, o casal já reclamava do mau estado de conservação dos brinquedos.
"Está tudo quebrado, não tem condições assim", disse ele, apontando para um playground de madeira visivelmente deteriorado. "Lazer para as crianças é tudo pago, daqui a pouco já vamos embora", acrescentou Santos, enquanto observava os filhos.
A poucos metros de lá, a atração Família no Parque oferecia uma série de atividades e brinquedos infláveis com ingressos entre R$ 8 e R$ 50.
A requalificação dos equipamentos do parque está entre as obrigações contratuais da nova gestão, que no primeiro ano diz ter priorizado melhorias na rede elétrica, hidráulica e de esgoto –etapa que está praticamente concluída, de acordo com a empresa.
"O edital de concessão prevê medidas estruturantes no primeiro ano para que o parque possa receber novos equipamentos", afirma a Reserva Parques em nota.
A empresa também diz que entregou nova quadra, pista de skate e outros equipamentos de acesso gratuito, e que reformou 200 bancos e instalou outros 100 novos. Quanto aos parquinhos, a concessionária diz que dois já receberam manutenção. Nenhum prazo estipulado em contrato foi excedido.
As ações, no entanto, são pouco percebidas pelos frequentadores. A maioria dos visitantes ouvidos pela reportagem disseram notar poucas mudanças no parque desde que a nova administração assumiu. Muitos demonstraram entusiasmo com os eventos, enquanto outros criticaram o aumento nos preços.
"Hoje paguei R$ 18 na água de coco, praticamente o triplo do que custava antes", disse o fotógrafo Deivson Pires, 22.
As intervenções previstas no Villa-Lobos têm prazos que variam de dois a seis anos. A maioria das ações ainda está em fase inicial –caso das reformas nas quadras e bancos– ou nem começou.
O orquidário Ruth Cardoso, por exemplo, segue abandonado, do mesmo modo como deixou o governo estadual. Atualmente, o espaço se encontra fechado com tapumes e há até animais mortos no interior. A cúpula externa já não tem mais vidro e em dias de chuva o local costuma ficar inundado.
A Reserva Parques ainda tem dois anos para reativar o orquidário, mas as obras de drenagem e adequação da estrutura ainda não começaram. Segundo a concessionária, a reforma ainda está em fase de estudo.
A concessão dos parques Villa-Lobos, Cândido Portinari e Água Branca tem duração prevista de 30 anos, durante os quais a gestão privada deve realizar investimentos de pelo menos R$ 61,6 milhões.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.