Contar o número de amigos de Almir Sleiman Mihessen é tão difícil quanto saber para quantas cidades ele viajou ao longo da vida. O professor de inglês, que nasceu no Rio de Janeiro e amava São Paulo, usou sua fluência na língua para ensinar, fosse na escola ou no prédio onde morava.
Atento, percebeu o interesse do porteiro em livros e lhe ofereceu aulas gratuitas. Com o incentivo, o rapaz evoluiu e também se tornou fluente em inglês. "Generoso, Almir dava aulas para pessoas que não podiam pagar e isso fez muita diferença, pois mudou a vida delas", lembra o amigo Vicente de Carvalho.
Almir começou a estudar inglês com 12 anos. Aos 17, ganhou um concurso de línguas e o prêmio foi uma colônia de férias em Nova York, nos EUA. A viagem era o que faltava para ele desenvolver seu talento. "Sua paixão era dar aulas. Em São Paulo, implantou a rede Brasas [de ensino de inglês] e adotou a capital como sua cidade do coração", conta Carvalho.
Pós-graduado em letras nos EUA, Almir conquistou alunos de várias idades e chamava a atenção pela alegria, didática e pronúncia perfeita, sem sotaque. Muitos que aprenderam com ele se tornaram amigos. "Ele tinha o dom de agregar pessoas. Viajar era outra de suas características, e nessas viagens continuou a conhecer pessoas e a fazer amigos pelo mundo", destaca Vicente.
Filho de imigrantes sírios, nascido numa família de quatro irmãos, adorava as fantasias do Carnaval e desde cedo sonhava em ser professor, mesmo que o avô o quisesse engenheiro. A família tinha parentes em vários países, onde Almir era acolhido. "Ele fez vários melhores amigos, muitos, muitos amigos. Agregava todos; conhecia e conquistava cada um com sua simpatia e educação", recorda a sobrinha, Marcela Mihessen.
"Era generoso, muito generoso. Além de dar os melhores presentes, seu tempo era distribuído entre os amigos e a família. Sempre arrumava um tempo para nos ver."
Marcela fala que o tio ajudava com tudo e era como o amigo ‘tecnológico’ da turma. "Se não soubesse, sabia procurar. Não media esforços. Se você falar com cada amigo dele, vai dar um livro de coisas que ele já fez para ajudar."
Almir adorava elogiar as virtudes alheias, decorar o nome de todos —o que fazia com facilidade— e agradecer. Como bom professor, sempre corrigia os sobrinhos, "para termos um português impecável", diz Marcela. Outra alegria dele era comer, no entanto, não descuidava dos exercícios regulares.
"Ele amava viajar, conhecia todos os continentes, nem sei quantos países. Era um amante da boa comida e de boa música, teatros, filmes; amava arte, museus. Um cara superculto", observa Marcela.
Almir morreu em 25 de junho, de câncer de pulmão. Deixa três irmãos, quatro sobrinhos e uma passagem fantástica e inesquecível por diversos países e corações.
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