Ennio Leão dedicou sete décadas de sua vida à pediatria. Resplandecia ao falar da profissão.
Professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), formou-se em medicina na mesma instituição, em 1955, quando iniciou sua carreira trabalhando com gastroenterologia e dermatologia. Depois, especializou-se na assistência aos mais jovens.
Era paciente, amoroso, empático. Sabia conversar e acalmar seus pequenos pacientes como poucos. Fazia o mesmo com alunos e incontáveis afetos, alguns cultivados desde a infância em Conselheiro Lafaiete, histórica cidade mineira.
"Acho que eu não consigo expressar o apreço e a gratidão que tenho por ele", diz Joaquim Antônio César Mota, também médico e amigo de Ennio. "Nós fazíamos aniversário no mesmo dia e sempre ligávamos um para o outro para nos dar parabéns. Nosso vínculo sempre foi muito afetivo", continua.
O médico dedicou-se também ao desenvolvimento científico. De 1980 a 1995, integrou a Sociedade Mineira de Pediatria. Em março de 1997, adentrou a Academia Brasileira de Pediatria. Lá, era um guia.
Durante sua carreira, foi estudioso das doenças nutricionais, especialmente da desnutrição, do raquitismo e do escorbuto.
"A pediatria brasileira perde uma das referências mais importantes para a nossa especialidade. Deixou um importante legado e foi exemplo de dedicação aos cuidados das crianças e adolescentes", declara Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ennio foi o criador e o editor sênior do livro "Pediatria Ambulatorial", publicado pela primeira vez em 1983. Em sua sexta edição, que saiu no ano passado, a obra foi renomeada como "Ennio Leão - Pediatria Ambulatorial", em homenagem ao seu decano.
Aposentou-se da vida acadêmica em 1989. Porém, continuava trabalhando voluntariamente no Hospital das Clínicas da universidade mineira. Em 2011, recebeu a medalha Cícero Ferreira, que homenageia os profissionais que se destacaram pela dedicação e contribuição à faculdade. No ano anterior, foi agraciado com a Grande Medalha da Inconfidência, concedida pelo governo mineiro a pessoas que se distinguiram pela notoriedade de seu saber, cultura e relevantes serviços à coletividade.
Em todo o país, sua trajetória era celebrada com constância. Recebia profusão de prêmios e homenagens. Nas últimas vezes, agradeceu de longe, com a voz rouca e baixa. O tempo já o cobrava, todos percebiam.
Ennio Leão morreu aos 92 anos, na terça-feira (5). Deixa filhos, netos e bisnetos.
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