Juliano Spyer estreia coluna na Folha sobre o universo das igrejas evangélicas

Mestre e doutor em antropologia, ele é autor de 'Povo de Deus: Quem São os Evangélicos e Por Que Eles Importam'

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São Paulo

Em 2019, evangélicos representavam 31% da população adulta do país, conforme pesquisa Datafolha. É em torno da cultura, dos conflitos e das formas de convívio entre os religiosos e demais cidadãos que o antropólogo Juliano Spyer vai publicar, na manhã desta quarta-feira (9), uma nova coluna semanal na Folha.

O antropólogo Juliano Spyer, autor do livro 'Povo de Deus' e novo colunista da Folha - Zanone Fraissat/Folhapress

A iniciativa ganha espaço em um ano de eleições marcadas pela significativa disputa pelo voto evangélico e também pela presença de religiosos nas composições parlamentares de todas as esferas políticas.

Acrescenta-se a esse dado o contexto da expansão contínua em território nacional da comunidade protestante, cuja população, segundo Spyer e sua pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deve se tornar o maior grupo religioso do país na próxima década, ultrapassando católicos.

O interesse do autor pelo tema derivou de estudos prévio sobre "as camadas populares no Brasil" ou "o que nos anos 2000 foi chamado de 'temas da classe C e do consumidor emergente'".

Mestre e doutor em antropologia pela University College London, Spyer passou a se dedicar ao universo dos evangélicos mais recentemente. Em 2020, publicou o livro "Povo de Deus: Quem São os Evangélicos e Por Que Eles Importam" (Geração Editorial), que foi indicado ao prêmio Jabuti. Também mantém o Observatório Evangélico, site que "capta e circula a multiplicidade de vozes e visões de evangélicos."

Neste cenário, a diversidade de igrejas e as diferenças com que traduzem a Bíblia para seus fiéis se tornam uma tônica importante na produção do novo conteúdo. Mesmo sendo um grupo de grande força e expressão no país, "evangélicos continuam sendo colocados por intelectuais e formadores de opinião em duas caixinhas estereotipadas: a do fanático ou como o mercador da fé charlatão", diz o pesquisador.

Para ele, ignora-se a diversidade "de perspectivas, de denominações, de histórias do protestantismo" em sua expansão pelo território brasileiro. Já na primeira coluna ele propõe questionar-se a razão de o brasileiro "mais escolarizado ter tanta dificuldade de se interessar por esse que é o maior fenômeno de massas do país dos últimos 50 anos". "Estamos nos tornando um grande país protestante."

Caberá também na proposta de Spyer realizar retratos e análises sobre conflitos e trazer pontos de vista críticos ao universo religioso —ele próprio diz não seguir nenhuma religião. "Também não tenho preconceito, do candomblé ao budismo e ao culto pentecostal, respeito cada um desses espaços."

Entram nesse pacote os debates sobre sexualidade, aborto, a participação das mulheres, a relação com outras formas de expressão religiosa, a aproximação com as bancadas conservadoras do Congresso —"embora existam alas à esquerda" —e a capitalização da fé por igrejas como a Universal do Reino de Deus. Spyer preferiu não se posicionar sobre a cobrança de impostos nas receitas das igrejas.

A coluna pretende, portanto, traçar um desenho mais complexo desse amplo cenário, delineando ainda o papel assistencial dos grupos evangélicos, onde "pretos e pardos pobres convertidos ao protestantismo ascendem socialmente e ocupam o espaço de brancos de herança católica, inclusive se fazendo presentes dentro do Estado", como afirma Spyer em "Povo de Deus".

Para o pesquisador, incluem-se como qualidades dos serviços prestados pelas comunidades evangélicas as lutas contra a violência doméstica, o incentivo ao empreendedorismo e o auxílio a quem desenvolve dependência química. Ele deve trazer a seus textos discussões sobre como esse papel se tornou preponderante sobretudo nas regiões em que o Estado se fez ausente e onde as igrejas puderam oferecer alternativas de espaço qualificado para o incentivo à vida em comunidade.

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