Vereador diz que Pitta era 'negro de alma branca' e gera indignação na Câmara de SP

Fala de Arnaldo Faria de Sá foi seguida de repúdio de diversos vereadores de todas esferas políticas

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São Paulo

O vereador Arnaldo Faria de Sá (PP) se referiu na noite desta segunda-feira (12) ao ex-prefeito Celso Pitta como "negro de alma branca" e gerou indignação de vereadores na Câmara de São Paulo.

A fala aconteceu durante discussão do Projeto de Intervenção Urbana do Setor Central.

Faria de Sá citou Pitta dizendo que foi secretário de Governo do ex-prefeito, que administrou a Prefeitura de São Paulo no período de 1997 a 2000 e morreu em decorrência de um câncer em 2009 .

"Eu me preocupei com um negro, que era o Pitta, o prefeito da capital, que estava escurraçado, estava sendo atacado, vilipendiado", disse. "Derrotei o impeachment, ele levou seu mandato até o final. Eu estava preocupado com um negro de verdade, negro de alma branca como as pessoas costumam dizer, não podemos ter essa preocupação de não estar preocupado com todos", disse.

Posteriormente, Faria de Sé pediu desculpas. "Eu errei, não quero discutir com ninguém, quero pedir desculpas humildemente".

Celso Pitta com o então secretário de Governo Arnaldo Faria de Sá, no ano 2000
Celso Pitta com o então secretário de Governo Arnaldo Faria de Sá, no ano 2000 - Jayme de Carvalho Jr./Folhapress/01.09.2000

A primeira a se manifestar contrariamente foi Elaine do Quilombo Periférico (PSOL). "Mais uma vez pedir respeito aos vereadores, que não utilizem falas racistas no plenário. Dizer que um negro para ser bom negro precisa ser um negro de alma branca é uma frase absolutamente racista e inaceitável neste plenário", disse Elaine.

Luana Alves, líder do PSOL, disse que o partido tomaria todas as medidas cabíveis e que não iria reproduzi-la porque a declaração doía nela.

O presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), após se certificar de que a fala era a mesma citada por Elaine, também criticou a declaração. "A fala é uma fala racista. Realmente, ela merece um reparo público e imediato", disse.

Leite disse que "infelizmente nós assistimos hoje uma cena triste aqui". "Hoje é um dos dias mais tristes [em] que vou embora dessa casa", disse.

Depois disso, todos os vereadores que pediram a palavra prestaram solidariedade aos negros e criticaram a fala de Faria de Sá.

"Quero deixar meu repúdio às palavras do vereador, independente da posição que cada um esteja, da discussão acalorada, das desavenças que nós temos aqui, das discordâncias que nós temos não podemos de maneira, nenhum momento, pelo calor do momento, pela agonia do momento proferir frase que eu prefiro não repetir do vereador Arnado Faria de Sá", disse Sonaira Fernandes (Republicanos), aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Não podemos passar pano no racismo, não podemos admitir que o racismo seja naturalizado."

Felipe Becari (PSD) disse que ficou chocado com a declaração e citou "absurdo". "Ao menos o mínimo de alívio eu sinto por ver tantos vereadores e vereadoras se manifestando", disse.

Vereadores do PSOL enviaram nota à Folha dizendo que o partido entrará com representação na Corregedoria da Câmara a respeito da fala por quebra de decoro e também fazer uma representação criminal no Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância, do Ministério Público.

"Utilizar a expressão preto de alma branca para se referir a alguém como um negro de verdade é racista. Quem diz isso quer que sejamos passivos, que sejamos coniventes com as violências que sofremos todos os dias. Não vamos tolerar a utilização dessa expressão entre parlamentares, que deveriam representar o povo, povo majoritariamente negro. A bancada do PSOL vai representar o vereador na comissão de ética da Câmara", disse Paula Nunes, parte do mandato coletivo da Bancada Feminista.

Ao fim da sessão, novamente Faria de Sá tentou explicar a questão política envolvendo Pitta e pediu desculpas novamente. "Não quis, nunca, jamais, ter trazido essa ofensa. Aproveito essa oportunidade para pedir mais uma vez desculpas e lembrar que eu sempre defendi o Pitta com unhas e dentes e consegui que ele terminasse seu mandato".

Após o episódio, Milton Leite desconvocou as sessões previstas para a noite e madrugada.

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