As 10 horas de balada prometidas pelo SP na Rua, festa gratuita e a céu aberto realizada entre sábado (28) e domingo (29) na República, arrastaram 50 mil pessoas para o centro de São Paulo, segundo a estimativa oficial. Mas também deixaram uma trilha de depredação da qual têm se queixado moradores e comerciantes da região.
Os 38 coletivos participantes do evento organizado pela Prefeitura de São Paulo foram distribuídos por 16 pontos entre a praça da República e a avenida 23 de Maio, na região do chamado Centro Novo. A proposta do evento, que está em sua sétima edição, é a de abrigar as diferentes expressões da vida noturna paulistana —música eletrônica, rap e reggae costumam aparecer com força.
Na manhã deste domingo, quando a luz do sol decretou o encerramento do evento, também revelou vidros quebrados e uma quantidade enorme de pichações que não estavam lá no final da tarde de sábado.
A Galeria do Rock, por exemplo, teve o portão de sua fachada da rua 24 de Maio totalmente pichado. Segundo o síndico Antonio de Souza Neto, o Toninho, isso nunca havia acontecido desde a troca do portão, há 15 anos.
"Uma agressividade gratuita. Picharam inclusive a parte da fachada que é de madeira nobre. Vai dar um baita trabalho para restaurar. O portão também vai ser complicado, porque tinha pintura eletrostática, não tem como fazer de novo, só pintar por cima", explica Toninho.
Até 2018, o SP na Rua acontecia na região do centro histórico, especialmente no vale do Anhangabaú e na praça do Patriarca. Desta vez, a prefeitura fez o experimento de transportá-lo para o Centro Novo, o que gerou revolta dos moradores. Mais ainda agora após as consequências negativas.
"Avisamos a prefeitura desde que soubemos que tinham essa ideia. Brigamos com eles, fizemos abaixo-assinados. Não nos ouviram. A prefeitura não pode fazer um evento assim sem ter as condições de segurança para tal", diz Toninho. "É triste pela negligência e pela irresponsabilidade. O prefeito [Bruno Covas, do PSDB] foi alertado. Todos estamos revoltados."
Na mesma rua, o Sesc 24 de Maio também teve sua fachada bastante atingida, inclusive um cartaz que divulga a programação mensal do local.
Na rua Barão de Itapetininga, paralela à rua 24 de Maio, uma agência bancária do Itaú foi pichada e um prédio comercial teve sua porta de vidro destruída.
Zelador desse prédio, que contém no térreo uma loja Kalunga, Lourival Silva queixa-se das pichações onipresentes.
"Uma loja novinha teve a fachada toda pichada. A farmácia também, o Itaú. Picharam um pedacinho da Kalunga, que foi a única exceção. O resto ficou todo pintado", diz.
Ele conta que fechou todas as portas e janelas do apartamento que tem no edifício e mesmo assim não conseguiu dormir por causa do som alto.
"Ninguém conseguiu dormir. O som foi desligado às 6 da manhã. A porta da minha sala estremecia inteira. Fechei a cozinha, o banheiro, o quarto, e tudo vibrava", diz Lourival, que acredita que o vidro da porta de entrada não quebrou por causa do barulho, mas devido a algum objeto que jogaram.
"O vidro tem marcas. Tirei uma parte dele hoje e amanhã vou tirar a outra. E quem vai pagar o prejuízo? O prefeito? Tive que passar a manhã limpando também. Essa porta estava cheia de sujeira e urina", completa.
"Foi o caos, o som rasgando pela cidade. Aqui tem muitos hotéis e moradias. Avisamos vereadores, todos sabíamos que ia dar merda. E a prefeitura fez o evento mesmo assim", afirma Toninho.
Os moradores da região estão se organizando para procurar o Ministério Público de São Paulo para cobrar a administração municipal.
Em nota, a gestão Covas diz que "lamenta o ocorrido e informa que o SP na Rua é um evento público e gratuito que promove a ocupação cultural do centro da cidade com música, instalações e performances". Também afirma que equipes da PM e Guarda Civil Metropolitana realizam a segurança do evento que, diante do público esperado, teve todas as medidas de segurança preventiva adotadas.
Segundo a prefeitura, a GCM disponibilizou 34 agentes em 17 viaturas durante todo o período do evento, que se estendeu das 22h às 6h.
Também acrescenta que o serviço de limpeza da região do evento teve a colaboração de 105 varredores, 24 motoristas, 30 ajudantes, 30 equipamentos e 70.000 litros de água para recolher 30 toneladas de lixo da região. Outras seis equipes de fiscalização, totalizando 60 agentes, trabalharam durante o evento para coibir o comércio ilegal.
Por fim, a prefeitura diz que o SP na Rua faz parte da programação do Mês da Cultura Independente, que por sua vez integra o Agendão, "calendário cultural integrado do programa São Paulo Capital da Cultura". O SP na Rua, explica, é um evento que promove a ocupação cultural do centro da cidade com música, instalações e performances.
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