Até o Carnaval do ano passado era do Mestre Sabu a voz que comandava o desfiles das escolas de samba paulistas pelo sambódromo do Anhembi, a plenos pulmões, aos 91 anos. Ele queria entrar para o "Livro dos Recordes" como quem por mais tempo foi locutor na avenida —ostentava suas quatro décadas.
Jurandir de Oliveira assumira a função por acaso, nos anos 1970. Era funcionário da prefeitura quando foi surpreendido com o pedido: o locutor do desfile, à época na avenida Tiradentes, faltara e ele teria que apresentar a festa.
Pois não só abriu alas, mas estreou o jargão que se consagraria depois: "A passarela é de vocês! Arrepia, rapaziada!". Também anunciava: "Não haverá chuva na noite de hoje", para a alegria geral.
Mineiro de Itajubá, ele flanou muito antes de virar uma das principais figuras da folia em São Paulo. Aos 14, veio para a capital em busca do sonho de ser sambista —numa época em que a profissão era marginalizada. Sozinho, lavou carro, engraxou sapatos e dormiu na rua.
Depois, foi alçado a ator, e fez filmes e séries na extinta TV Tupi, como "O Vigilante Rodoviário" e "Águias de Fogo". Apresentou programas como Casa de Bamba e Batuque na Cozinha, na Rádio Atual e no Diário do Grande ABC. Também fora o mestre de cerimônia da histórica agremiação Paulistano da Glória.
Mestre Sabu tocava pandeiro, percussão e cantava. "Sempre foi alegre, cômico e até piadista", conta o filho Marco Antônio. Colecionava chapéus e relógios.
Há 20 anos, o locutor se mudou para Marília, no interior do estado, mas batia voltava a São Paulo todo Carnaval. Este ano, fará falta na avenida. Aos 92, pouco antes do início da folia, morreu em decorrência de uma embolia pulmonar. Deixou a mulher, Yara, dois filhos e uma neta.
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