'Hacker social' vasculha dados para ligar desaparecidos a parentes em SP
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Darko trabalha no setor de desaparecidos da Secretaria de Assist�ncia e Desenvolvimento Social de SP |
Na �ltima segunda-feira (15), Darko Vieira Cristiano, 31, parou sua moto �s pressas para atender uma liga��o no celular quando voltava para casa, no bairro do Graja�, na zona sul de S�o Paulo.
Do outro lado da linha estava uma assistente social da prefeitura que havia acabado de encontrar um homem desaparecido havia meses.
Darko � o respons�vel por desenvolver um sistema de alerta para cruzar informa��es de pessoas desaparecidas com as entradas em equipamentos sociais do munic�pio –como albergues.
O rapaz j� estudou psicologia, parou a faculdade e quer agora cursar filosofia, mas entende mesmo � de vasculhar pela internet.
Apelidado de Darko Hunter, com refer�ncia � palavra "ca�ador" em ingl�s, ele se define como "hacker social".
Foi contratado para ser integrante do setor de desaparecidos da Secretaria Municipal de Assist�ncia e Desenvolvimento Social. Utiliza um computador com duas telas para acessar bancos de dados e cruzar informa��es.
Antes, chegou a criar uma empresa para a pesquisa, por conta pr�pria, do paradeiro de gente procurada pela fam�lia.
Agora, a tentativa � n�o s� identificar se algum desaparecido deu entrada num abrigo, mas se h� alguma pista do mundo digital para levar essa pessoa a um conhecido.
Quando encontra uma pista, � ele mesmo quem liga para os familiares. "Prefiro sempre falar com algu�m n�o t�o pr�ximo, como pai e m�e, para evitar choques, principalmente em caso de morte."
No caso da �ltima segunda-feira, n�o teve final feliz. O homem desaparecido nem queria contato com a fam�lia, em raz�o de alguma briga.
Darko estima atender perto de cem pessoas em um m�s –com at� 40 reencontros.
COVITE
O convite para integrar a busca por desaparecidos na pasta municipal veio da ent�o secret�ria Luciana Temer, da gest�o Fernando Haddad (PT), e ele acabou mantido na gest�o Jo�o Doria (PSDB).
Seu trabalho chamou a aten��o da delegacia especializada porque ele j� fazia algo semelhante antes, assinando boletins de reencontro cada vez que conseguia reunir fam�lias e desaparecidos.
Foi assim quando ele fingiu ser um agente para convencer uma senhora com transtornos mentais que morava na rua a receber tratamento. "Ela dizia estar sendo perseguida pela m�fia e que tinha um chip no corpo."
Darko diz que usou uma lanterna para convenc�-la da retirada do chip e conseguiu lev�-la a um hospital psiqui�trico, onde come�ou a retomar a mem�ria e lembrou o nome da irm�. Pouco depois estava de volta com a fam�lia.
Em casos como esse, a estrat�gia � retirar qualquer informa��o da pessoa, como data, local de nascimento ou nome de familiares. Com base nisso, Darko come�a a vasculhar bancos de identifica��o.
O caminho inverso, para atender a parentes de desaparecidos, costuma ser mais trabalhoso. Para ser encontrada, a pessoa precisa dar entrada em algum equipamento da prefeitura –levando ao alerta criado por ele e que chega em seu celular.
"Assisto a s�ries sobre investiga��o e gosto de pesquisar sobre programa��o na internet. N�o sosseguei enquanto n�o cheguei a uma solu��o", afirma Darko.
Um dos primeiros reencontros que realizou foi quando ainda era volunt�rio em uma ONG que presta assist�ncia a moradores de rua.
Darko conta que tentava convencer um homem a ir para um abrigo, mas ele se recusava, porque dizia esperar "a namorada, a apresentadora [de TV] Mariana Godoy".
"Usei uma foto dela para fazer uma montagem e pedi para minha namorada escrever uma carta como se fosse ela pedindo para ele sair da rua", lembra. "Na hora, caiu uma l�grima que limpou seu rosto cheio de fuligem e ele finalmente aceitou ser abrigado."
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