A tr�plice fronteira entre Brasil, Peru e Col�mbia e as rotas de tr�fico que escoam a produ��o de coca�na da regi�o, conhecida como Trap�zio Amaz�nico, s�o o principal motivo da disputa entre as fac��es criminosas Fam�lia do Norte e PCC, que vitimaram de forma b�rbara 56 presos no Complexo Penitenci�rio An�sio Jobim, em Manaus.

"O que est� em jogo � o controle dessas rotas, economicamente muito valiosas. � uma disputa por dinheiro", explica Luiz F�bio Paiva, professor e pesquisador do Laborat�rio de Estudos da Viol�ncia da Universidade Federal do Cear� (UFC), especialista na tr�plice fronteira.

Os recordes de apreens�o de drogas pela Secretaria de Seguran�a P�blica do Amazonas nos �ltimos dois anos d�o ideia dos recursos que podem ser gerados ali: em 2015, foram 11 toneladas de drogas; em 2016, dez toneladas. O secret�rio S�rgio Fortes estimou um valor para cada montante: R$ 200 milh�es.

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E, claro, a droga apreendida � apenas parte daquela que circula por l�. Estimativas da Pol�cia Federal apontam que o tr�fico de coca�na deve movimentar cerca de R$ 1,5 bilh�o por ano na regi�o.

"A Fam�lia do Norte n�o admite a expans�o do PCC no Amazonas nem nos pres�dios do Norte. Eles t�m a perspectiva do monop�lio do narcotr�fico na regi�o e da hegemonia no controle dos pres�dios, como a organiza��o paulista tem em outros Estados do pa�s", avalia Paiva.

A FDN � aliada do Comando Vermelho (CV), que mantinha uma esp�cie de parceria com o PCC. Com a cis�o entre as duas fac��es do Sudeste, ocorrida em meados de 2016, a tens�o entre FDN e PCC se acirrou.

ROTA DO TR�FICO

� pelo Alto Solim�es e seus afluentes que a pasta-base de coca�na ou a coca�na j� refinada navegam, chegando a Manaus e seguindo para outros Estados at� o Cear�, onde a Fam�lia do Norte tem forte atua��o, segundo Paiva. De l�, a droga seguiria para a Europa, em geral via Portugal.

As atividades na chamada rota do Solim�es teriam se intensificado nas m�os da FDN, depois de anos sendo exploradas por pequenos traficantes –ap�s a desarticula��o dos grandes cart�is colombianos, que puxavam a produ��o regional para aquele pa�s, tendo como alvo o mercado norte-americano.

A pesquisa de Paiva apontou que as comunidades da tr�plice fronteira e as popula��es ribeirinhas s�o muito assediadas para integrar essa passagem da droga como mulas ou avi�es, pelo conhecimento que t�m das rotas pluviais. Nelas, a droga � ocultada em peixes, artesanatos ou na pr�pria estrutura de barcos que fazem o transporte.

"Desde o Alto Solim�es at� Manaus, verificamos um aumento no uso de drogas entre ribeirinhos e ind�genas, bem como uma escalada de viol�ncia, com crescimento nos �ndices de suic�dio e homic�dio. Para essas comunidades, o problema n�o � a droga que passa, mas a droga que fica", diz.

Segundo o pesquisador, a Fam�lia do Norte (FDN) surgiu por volta de 2006, quando Gelson Lima Carna�ba e Jos� Roberto Fernandes Barbosa, o Z� Roberto da Compensa, retornaram a Manaus, ap�s deixarem pres�dios federais, e decidiram organizar o crime local nos moldes de fac��es como o PCC e o Comando Vermelho (CV).

"A FDN unificou coletivos criminais de Manaus e dividiu o com�rcio de entorpecentes por regi�o da cidade, criando c�digos de conduta para os criminosos", explica �talo Lima, pesquisador da Universidade Federal do AM.

Segundo Paiva, a fac��o atuou em rede e de forma silenciosa, sem "a ostenta��o que se v� entre fac��es do Rio de Janeiro". Talvez por isso tenha demorado para entrar no radar das autoridades.

Em abril de 2014, a Pol�cia Federal no Amazonas foi surpreendida ao apreender R$ 200 mil em esp�cie dentro do aparelho de ar condicionado de uma lancha que navegava no rio Solim�es.

As investiga��es feitas a partir dali revelaram uma organiza��o criminosa extremamente hierarquizada que j� atuava dentro e fora dos pres�dios amazonenses.

Mais de um ano depois, em novembro de 2015, a opera��o La Muralla da PF cumpriu 86 mandados de pris�o, muitos contra as principais lideran�as da FDN, dentre eles, os fundadores da fac��o.