Rio Grande do Sul lidera estat�sticas de suic�dio no pa�s
Estado entre os melhores do pa�s em indicadores sociais, o Rio Grande do Sul lidera estat�sticas em uma �rea que preocupa governos e intriga pesquisadores: o de recordista em taxas de suic�dio.
�rg�os de sa�de do Estado tentam quebrar o sil�ncio sobre um tema sempre delicado e ampliar o atendimento a pacientes que consideram em situa��o de risco. Os ga�chos t�m �ndices que atingem o dobro da m�dia nacional.
Entre 2007 e 2010, o Estado teve 10,2 mortes por suic�dio a cada 100 mil habitantes – valor pr�ximo ao de pa�ses europeus como Su�cia e Noruega, que j� foram conhecidos por �ndices elevados desse tipo de morte.
Dados do Minist�rio da Sa�de tabulados pela Folha apontam que, no per�odo de 2007 a 2011, 9 das 20 cidades acima de 50 mil habitantes que proporcionalmente tiveram mais casos est�o no Rio Grande do Sul.
Editoria de Arte/Folhapress |
O epicentro do fen�meno no Estado est� no vale do Rio Pardo, regi�o conhecida como um polo mundial da produ��o de fumo.
Um dos munic�pios mais ricos do Estado, Ven�ncio Aires teve 79 casos em cinco anos (o equivalente a 23,1 casos para cada 100 mil habitantes).
Na cidade de 69 mil habitantes a 127 km de Porto Alegre, o tema � um tabu. A explica��o comum � a forte influ�ncia da cultura alem� e seus padr�es de auto exig�ncia.
Cerca de 10% dos leitos do principal hospital local s�o destinados � psiquiatria. Nos �ltimos anos, a prefeitura come�ou a investir em um programa de preven��o baseado em interna��es e grupos de ajuda.
O delegado Felipe Cano diz que os casos na localidade s�o t�o numerosos que n�o � poss�vel tra�ar um perfil dos mortos: h� de pobres a ricos, jovens e idosos, moradores do centro e da �rea rural.
"Todo mundo sabe de uma hist�ria com um vizinho, um conhecido. E � uma coisa que n�o se divulga justamente para n�o fomentar", afirma.
Enquanto a cidade possui taxas de criminalidade baixas, na delegacia h� centenas de fotos de investiga��es de suic�dios, que precisam ser apurados at� que a hip�tese de crime seja descartada.
A enfermeira Cristina Teles, que atua na preven��o no munic�pio, diz que uma poss�vel causa � um efeito de repeti��o. "A pessoa pensa: `meu pai fez isso, meu av� fez isso'. Em um momento de crise, cogita tamb�m fazer."
FUMO
Nos anos 90, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul levantou uma hip�tese que associa a alta dos suic�dios ao uso de agrot�xicos chamados organofosforados nas planta��es de fumo. O trabalho apontava a possibilidade de o produto gerar efeitos comportamentais no agricultor.
O debate sobre o assunto fez com que at� um projeto de lei fosse encaminhado no Congresso banindo o uso esses produtos. A proposta segue parada desde 2011.
A Associa��o dos Fumicultores, por�m, recha�a essa rela��o e diz que hoje o composto � pouco usado. Uma pesquisa da Unicamp e de uma universidade local sobre o tema apontou que n�o havia rela��o entre as mortes e o uso do material na lavoura.
QUEST�O DE HONRA
O psiquiatra Ricardo Nogueira, que estudou em mestrado as taxas de suic�dio no Rio Grande do Sul, v� "m�ltiplos fatores" no fen�meno e cita a quest�o da "honra" na tradi��o ga�cha como uma das causas.
"Vejo uma coisa em comum entre ga�chos e japoneses. � a quest�o da dignidade, de n�o poder ser tra�do, de n�o levar desaforo."
At� a influ�ncia do Uruguai, onde os �ndices s�o muito superiores aos do Brasil, foi posta como hip�tese.
O doutor em ci�ncias m�dicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Jair Segal cita a predomin�ncia na regi�o de pequenas propriedades familiares, frequentemente afetadas por d�vidas ou perdas com o clima.
"H� quem veja a morte como uma sa�da pela vergonha de perder a propriedade."
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