Voto a Voto

Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Voto a Voto

O ambientalismo tem solo fértil nos partidos brasileiros?

Essas legendas têm melhor desempenho quando a economia vai bem

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leonardo Bueno

é economista, doutor em administração pública (FGV/EAESP) e atualmente é aluno de Ph.D. em Ciência Política pela UCSD. Pesquisador filiado ao FGV Cepesp

A iminência do fim da pandemia começa a permitir que parte do mundo volte suas preocupações às emergências ambientais. Na condição de uma das maiores democracias do planeta e ator chave para conservação, o Brasil figura ainda mais no radar neste ano de eleição. Mas em que medida acompanhamos ou destoamos das tendências do mundo político global no assunto meio ambiente? Como a pergunta é ampla, o foco aqui será o comportamento partidário recente na democracia brasileira.

Por conta das ameaças ao meio ambiente, os partidos verdes ganharam terreno nas últimas décadas, tanto em termos de representação, como em influência sobre políticas públicas. No entanto, essa expansão é desigual e mais acentuada nos países desenvolvidos.

Imagem aérea da floresta Amazônica, na região da bacia do rio Tapajós, no estado do Pará - Pedro Ladeira - 24.fev.22/Folhapress

Um dos exemplos recentes dos impactos políticos dos verdes é o "Green New Deal", nos Estados Unidos, que teve grande influência no pacote de contenção de inflação apresentado pelo presidente Biden em 2022. Dos US$ 740 bilhões orçados, US$ 375 bi serão voltados a projetos ambientais.

É o maior esforço econômico em um só ato na história. Outra recente vitória verde foi a votação conquistada pelo Partido Verde nas eleições parlamentares alemãs de 2021, ficando em terceiro lugar e conquistando 16% das cadeiras.

Na América Latina, chama atenção a crescente participação dos verdes no parlamento colombiano (10,74% no Senado e 6,67% na Câmara de Deputados) e sua decisiva contribuição para a eleição de Gustavo Petro. No Chile, apesar de a representação ser menor, há uma clara guinada favorável a temas ambientais no novo governo de Gabriel Boric.

Em contraste, o tradicional Partido Verde brasileiro, o PV, voltou, em 2018, ao patamar de 2002, ano em que começou a mostrar crescimento. Nas duas últimas décadas, o PV saiu de um representante na Câmara dos Deputados, em 1998, para o auge de 13 representantes em 2006 e 2010. Desde então, perdeu espaço e, mesmo com a formação do partido Rede (liderado pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva), a representação ambiental saiu de foco.

Alguns fatores ajudam a explicar a expansão de partidos verdes em países ricos e a aderência mais tímida no mundo em desenvolvimento. A principal teoria é de que as pautas ambientais têm maior apelo entre grupos sociais com preocupações pós-materialistas, ou seja, extratos menos pobres da população.

Apesar de questionada, essa teoria tem respaldo empírico, tanto para explicar o comportamento dos eleitores, como o desempenho dos partidos verdes em ciclos econômicos. Em linhas gerais, esses partidos têm melhor desempenho quando a economia vai bem.

Outro ponto importante é a consolidação partidária. Como a pauta verde é relativamente recente, ela está sujeita a ser "capturada" pelos partidos tradicionais. Formar um partido é custoso e leva tempo, e o sistema político pode acomodar as pautas ambientais nos partidos tradicionais, tanto de esquerda como de direita.

Em certa medida, é o que ocorre no Brasil. Hoje, PV e Rede estão nas federações de PT e PSOL respectivamente, partidos de esquerda que costumam liderar os debates sobre temas ambientais no Congresso. Finalmente, sequer é certo que os verdes estão sempre juntos da esquerda (que o diga a ex-presidenta Dilma Rousseff). Se agora estão juntos, conflitos entre preservação e redistribuição podem separá-los no futuro, e a sobrevida dos verdes será incerta.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.