![vladimir safatle](http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15152396.jpeg)
� professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de S�o Paulo). Escreve �s sextas.
Manifesta��es como as de 2013 provavelmente se repetir�o
Marcelo Cipis/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Um dos tra�os mais evidentes do pensamento olig�rquico est� em sua forma de descrever o povo e as massas. S�o normalmente representa��es de uma esp�cie de son�mbulo que age de forma irrefletida e nunca escapa por completo de um estado de sonol�ncia. Da� as injun��es sobre o estado de anestesia do povo, de sua apatia e indiferen�a. No Brasil, tal pensamento est� t�o enraizado que o pa�s costuma se ver a si mesmo como um gigante dormindo.
No entanto, h� de se perguntar se muitos n�o confundem deliberadamente o povo com suas representa��es pelo poder e pelas inst�ncias que procuram construir um imagin�rio social.
Assim, por exemplo, uma hist�ria como a brasileira, marcada por sucess�es de revoltas populares (Cabanada, Revolta de Carrancas, Cabanagem, Revolta dos Mal�s, Sabinada, Revolta do Quebra-Quilo, Revolta do Vint�m, Canudos, Revolta da Chibata, Contestado, Coluna Prestes, Luta armada contra a ditadura de 1964) � apresentada como o movimento pl�cido de um povo servil e cordial.
Foi assim que as manifesta��es de junho de 2013 pegaram todos de surpresa. A despeito de o ano ter come�ado com uma impressionante sequ�ncia de greves, da frustra��o relativa resultante do fim do processo de ascens�o social ser palp�vel no ar, da revolta contra promessas n�o cumpridas (ser�amos a quinta economia mundial, nossas grandes cidades seriam repaginadas por investimentos vindos da Copa do Mundo e das Olimp�adas etc.), ningu�m parecia perceber nenhuma placa tect�nica movendo-se abaixo do solo brasileiro. At� que a revolta explodiu.
Proje��es temporais n�o t�m validade objetiva, � verdade. Mas elas podem indicar lat�ncias da situa��o atual, poss�veis, de que muitos gostariam de nem sequer tomar ci�ncia.
O fato � que algo como Junho de 2013 provavelmente se repetir�. A verdadeira quest�o � se estaremos preparados para isso ou se iremos perder a oportunidade, mais uma vez, de colocar abaixo a estrutura institucional degradada e sua casta pol�tica.
O n�vel de desencanto e insatisfa��o popular chegou a n�veis dificilmente descrit�veis. A despeito da propaganda massiva de defesa do que se chama de "pol�tica econ�mica" atual, a rejei��o por parte da popula��o � tenaz e completamente majorit�ria. � parte os economistas do Ita� e do Bradesco, ningu�m apoia tal "pol�tica". O sentimento generalizado de espolia��o e desrespeito est� a� para quem quiser ver.
Por outro lado, os n�veis de rejei��o � classe pol�tica s�o absolutos. H� dias, o Instituto Ipsos publicou uma pesquisa sobre a percep��o das brasileiras e brasileiros a respeito dos representantes pol�ticos. Somando aqueles que desaprovam totalmente ou um pouco, os n�meros s�o da ordem do inacredit�vel.
Michel Temer tem 93% de reprova��o, seguido de A�cio Neves com 91%, Eduardo Cunha (91%), Renan Calheiros (84%), Jos� Serra (82%), o endeusado pela imprensa FHC (79%), Dilma (os mesmo 79%, mas com um �ndice maior de aprova��o do que FHC), Alckmin (73%) e Lula (66%).
Primeiro, h� de se salientar o descompasso entre como a popula��o avalia e como setores majorit�rios da imprensa falam sobre a percep��o popular. Que todos os cardeais do PSDB sejam mais reprovados do que Lula, eis algo que merecia uma reflex�o honesta. Que um ocupante da Presid�ncia tenha 93% de reprova��o e continue fazendo a mesma pol�tica, eis um caso de interna��o for�ada.
Por fim, a mesma pesquisa mostra que aquele que tem menor reprova��o (D�ria, com 52% e apenas 19% de aprova��o) continua tendo um n�mero monstruoso. Ou seja, todos sem exce��o tem mais de 50% de reprova��o. Isso demonstra o descolamento entre a casta pol�tica e o povo que ela julga representar.
Sinais dessa natureza mostram como h� uma lat�ncia de explos�o no Brasil. Como a hist�ria n�o � o terreno do necessitarismo, s�o as configura��es contingentes que determinar�o se tal lat�ncia passar� ao ato ou n�o. Mas � certo que um outro 2013 � poss�vel.
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