![vladimir safatle](http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15152396.jpeg)
� professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de S�o Paulo). Escreve �s sextas.
N�o haver� 2018
Marcelo Cipis/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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No Brasil, toda a reflex�o e a��o pol�tica parece atualmente ter os olhos �nica e exclusivamente voltados para o ano de 2018.
Como se o pa�s pudesse voltar a uma normalidade m�nima depois de ficar dois anos nas m�os de um ocupante do lugar de presidente da Rep�blica com perfil mais adaptado a trabalhar em filmes de aprendiz de g�ngsteres e com aceita��o popular zero, de um Congresso Nacional composto de indiciados e oligarcas e de um Poder Judici�rio ex�mio em operar com decis�es completamente contradit�rias de acordo com os interesses imediatos do juiz que julga.
No entanto h� de se trabalhar com uma hip�tese de grande plausibilidade, a saber, a de que 2018 n�o existir�.
A cada dia que passa fica claro que o Brasil est� atualmente submetido a uma esp�cie de guerra civil capitaneada por aqueles que tomaram de assalto o Estado brasileiro contra os setores mais desfavorecidos da popula��o. Sim, uma guerra civil silenciosa, mas t�o brutal quanto as guerras abertas. Pois esta � uma guerra de acumula��o e espolia��o, de vida e de morte.
De um lado, um sistema financeiro com lucros inacredit�veis para um pa�s que se diz em crise, sistema este com amplo controle das pol�ticas do Estado. Junto a ele, a elite rentista do pa�s com seus ganhos intocados, sua capacidade de proteger seus rendimentos de qualquer forma de tributa��o.
Na linha de frente, representando seus interesses, uma casta de pol�ticos degradados que criam leis e usam deliberadamente o dinheiro p�blico para se blindar, que mudam regras eleitorais para continuarem onde est�o e defenderem os verdadeiros donos do poder.
Do outro, temos a massa da popula��o empobrecida e agora submetida a um sistema de trabalho que retira o m�nimo de garantias de seguran�a constru�das nesse pa�s, que faz aposentadoria se transformar em uma rel�quia a nunca mais ser vista. Uma massa que sentir� rapidamente que ela tem apenas duas escolhas: ou a morte econ�mica ou a submiss�o ao patronato.
Junto a elas, a popula��o que se v� humilhada da forma mais brutal por prefeitos que marcam crian�as na escola para que elas n�o comam duas refei��es, que violentam moradores de rua com jatos de �gua nos dias frios para que eles sumam, governadores que destroem a c�u aberto universidades que n�o podem mais come�ar seu ano letivo por falta de verbas.
Toda essa popula��o submetida a uma for�a policial que atira em manifestantes, invade reuni�es p�blicas sem que nenhuma puni��o ocorra.
Seria suprema ingenuidade acreditar que esses que agora nos governam, esses senhores de uma guerra civil n�o declarada, esses mesmos que t�m consci�ncia absoluta de que nunca ganhariam uma elei��o majorit�ria no Brasil para impor suas pol�ticas aceitem ir embora de bom grado em 2018.
Quem deu um golpe parlamentar t�o tosco e prim�rio quanto o brasileiro (lembra-se das "pedaladas fiscais"? Quem mais foi punido neste pa�s? S� o antigo governo federal dela se serviu?) n�o conta em sair do poder em 2018.
S� que h� v�rias formas de 2018 n�o existir. A primeira delas e assistirmos uma elei��o "bielorrussa". Trata-se de uma elei��o na qual voc� impede de concorrer todos aqueles que t�m chance de ganhar, mas que n�o fazem imediatamente parte do n�cleo hegem�nico do poder atual. Caso essa sa�da n�o d� certo, teremos uma mudan�a mais radical da estrutura do poder, ou seja, uma elimina��o da elei��o presidencial como espa�o poss�vel de mudan�a.
Ent�o aparecer� a velha carta do parlamentarismo: o sonho de consumo das oligarquias locais que veriam enfim seu acesso direto ao poder central. Pois n�o confundam o parlamento brasileiro com o sueco. Entre n�s, o Congresso sempre foi a caixa de resson�ncia de interesses olig�rquicos com seus casu�smos eleitorais.
Por fim, se nenhuma das duas op��es vingar, n�o h� de se descartar uma guinada mais explicitamente autorit�ria. N�o, esta hip�tese n�o pode ser descartada por nenhum analista minimamente honesto da realidade nacional.
Neste sentido, pautar todo debate pol�tico atual a partir do que fazer em 2018 � simplesmente uma armadilha para nos prender em uma batalha que n�o ocorrer�, para nos obrigar a naturalizar mais uma vez uma forma de fazer pol�tica, com seus "banhos de Realpolitik", raz�o mesma do fracasso da Nova Rep�blica e dos cons�rcios de poder que a geriram.
Melhor seria se estiv�ssemos envolvidos em um luta clara pela recusa dos modelos de "governabilidade" que nos destru�ram.
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