Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu PIB Governo Lula inflação

O futuro do PIB melhorzinho no Brasil de Lula 3

Lula 1 e 2 foi de PIBão, década de 10 foi de desastre e 2024 corre o risco de azares

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A economia brasileira cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao último trimestre de 2023, como previsto. Para o número ficar menos impalpável, vamos fazer o exercício de imaginar que a economia crescesse a esse ritmo, trimestre ante trimestre, até o fim deste ano. O crescimento de 2024 seria de algo perto de 2,2%. Em 2023, havia sido de 2,9%. Em 2022, de 3%.

Ruim? Dadas as expectativas e previsões, muito erradas em 2022 e 2023, de modo algum.

Dado o crescimento médio que se viu de 2017 a 2019, de 1,4% ao ano, também não (trata-se do período entre a Grande Recessão de 2014-2016 e a epidemia, de 2020).

O presidente Luis Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad
O presidente Luis Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Pedro Ladeira/Folhapress

Dadas as previsões de crescimento potencial de 1,5%, também não é um ritmo ruim. Crescimento potencial: em tese e sem mudanças produtivas relevantes, o crescimento regular que o país poderia ter sem correr o risco de alta da inflação ou passar por outros desequilíbrios incapacitantes, por exemplo.

Um crescimento em torno de 2,2% está longe do ritmo médio de Lula 1 e 2, de 4,1%. Está perto da média (insustentável) de Dilma 1, de 2,5%.

No entanto, o crescimento que importa, o da renda (PIB) per capita, deve ser um tico mais acelerado. No final da primeira década do século, a população crescia a 1% ao ano; o ritmo veio caindo. Agora, deve estar em 0,5% ao ano.

Será possível manter esse ritmo próximo de 2,5% ao ano?

Quanto a fatores mais circunstanciais ou de curto prazo em geral, há problemas que estão além do nosso controle.

O desastre horrível no Rio Grande do Sul pode tirar uns décimos do PIB. Não sabemos. Não temos ideia do tamanho nem da espécie da destruição.

Houve perdas de renda. Pessoas e empresas não puderam ou ainda não podem trabalhar. Mas talvez tenha se perdido muita capacidade produtiva: infraestrutura, de instalações produtivas, máquinas e equipamentos e, pouco comentado, solo.

Não se sabe se o estado pode ser reconstruído nas mesmas bases. Um esforço bem pensado e financiado pode reerguer os gaúchos; atenuar ou até mais do que compensar a destruição. Ainda não se sabe como ou em quanto tempo.

A alta mais duradoura das taxas de juros nos EUA terá o efeito de limitar a baixa das taxas por aqui, também não se sabe em quanto ou por quanto tempo. Má notícia que não estava no roteiro deste 2024.

No que diz respeito àquilo sobre o que temos algum controle, os problemas sabidos no controle do déficit público e as dúvidas a respeito da atuação do Banco Central vão também limitar a queda da Selic e já elevaram as taxas básicas de juro de longo prazo.

O efeito da queda da Selic de agosto de 2023 para cá facilitou e deve facilitar um pouco o aumento do crédito por uns meses adiante. Sem melhorias no quadro econômico (déficit, inflação), a coisa para de melhorar em 2025.

Para ser mais otimista, temos de lembrar que o desemprego baixa, há mais gente trabalhando, a média dos salários cresce e a inflação, até agora, cai (em termos anuais). Há alertas de que isso não vai durar muito mais. Quanto? Não sabemos e temos errado muito a respeito.

Pode ser que o melhor da desinflação tenha passado (baixa do preço médio dos alimentos e de bens industriais, barateados pelo fim de problemas globais de abastecimento e pela enxurrada de produtos chineses baratos). Vamos ver.

No curtíssimo prazo, no primeiro trimestre, o PIB foi animado também pela renda extra do pagamento dos precatórios caloteados por Jair Bolsonaro e pela antecipação dos pagamentos devidos ao longo de 2024. Aumentos do salário mínimo e de benefícios sociais dão outro impulso.

O crescimento tem sido mais balanceado, menos dependente de agricultura e exportações. A "sensação térmica" do PIB deve ser maior.

O investimento em instalações produtivas, residências, máquinas, equipamentos ou softwares voltou a crescer, 4,1% no trimestre, mas ainda no vermelho no acumulado dos últimos quatro trimestres. A taxa de investimento (a parcela do PIB dedicada a aumentar a capacidade produtiva) é das piores do século, perdendo apenas para aquela dos anos da Grande Recessão e da epidemia, em 16,7%.

Mesmo que se dê o desconto de que a medida pode estar afetada pela variação de preços dos bens de capital, é uma taxa MUITO BAIXA, que não permite voos de crescimento por prazos mais longos. Estamos crescendo mais à base de consumo, não de investimento, e de aumento de gasto do governo, o que tem limite.

Não é voo de galinha, mas de um pato que pode cansar.

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