Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Descrição de chapéu Governo Lula Chuvas no Sul

Bolsa Família extra de Lula 3 para os gaúchos ainda vai ser pouco

Muita gente deve ficar sem renda do trabalho, em situação parecida com a da pandemia

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O governo federal estuda anunciar um Bolsa Família extra para parte das pessoas que foram expulsas de casa pelas enchentes e que já não estejam recebendo o benefício no Rio Grande do Sul. Entre desabrigados (em abrigos de emergência) e desalojados (acolhidos em outras casas), são cerca de 600 mil pessoas.

Em tese, o programa de emergência duraria enquanto as pessoas estivessem sem teto próprio. Além disso, haveria para umas 100 mil pessoas um "Auxílio Recomeço" de talvez R$ 5.000, para gastos em refazimento das casas, que vinha sendo chamado pelo péssimo nome de "voucher". Haverá financiamento extra para o Minha Casa, Minha Vida. Basta? Hum.

Sabe-se que, neste meio mês de calamidade, muita gente não teve como trabalhar nem terá como reaver boa parte desse rendimento perdido. Até que as águas baixem e se limpe a lama, vai mais tempo e vem mais penúria.

Bombeiros em bairro de São Leopoldo (RS) - Nelson Almeida/AFP

No Rio Grande do Sul, 3,5 milhões de pessoas estão no Cadastro Único (lista de possíveis beneficiários de assistência social, grosso modo), cerca de um terço da população do estado.

Dessas, 1,62 milhão está em famílias que recebem o Bolsa Família. Muita gente que está e ficará sem trabalho não consta dessas listas.

Quem deve sofrer mais e de modo imediato é o setor de serviços, em especial os menores. Isto é, pequenas oficinas e reparos, salões de beleza e barbeiros (quase 10% dos MEIs do país trabalham no setor de beleza).

Estarão em dificuldades pequenos comércios de rua, bares e restaurantes, entregadores e motoristas de aplicativo, diaristas de serviços domésticos, terapeutas variados, catadores de rua, serviços de hospedagem. Quando já vimos listas assim? Na pandemia de Covid.

Não, não é uma situação de pandemia. Mas certos trabalhos e negócios se tornam impossíveis com a paralisia das cidades, é óbvio. Na pandemia, em 2020, em média houve 2,67 milhões de beneficiários de auxílio emergencial no Rio Grande do Sul.

Muitas atividades rurais ficam interrompidas porque não há transporte para entregar a ração de frangos e porcos, para levar os animais ao abate, eletricidade para preservar criações. Em alguns casos, instalações produtivas, galpões, silos, equipamento, plantações e pastos foram destruídos. Como ficam pescadores artesanais e pequenos agricultores familiares?

Há problemas com empresas maiores, claro. O estado é grande produtor de móveis, calçados, máquinas e equipamentos, químicos. Vai ficar sem o aeroporto de Porto Alegre até setembro, pelo menos.

Alguns economistas de bancos e consultorias começam a fazer estimativas sobre o tamanho do colapso da economia gaúcha. Em maio e junho, seria um tombo semelhante aos dos primeiros meses da paralisação da pandemia. O problema é que, para fazer essa estimativa, os economistas usam como referência justamente o efeito do fechamento e do isolamento para conter o coronavírus. Mas não é improvável que o colapso de maio seja parecido com o do começo da pandemia.

O ministro Rui Costa (Casa Civil) disse à GloboNews que o governo vai criar uma autoridade federal para coordenar as ações de socorro no Rio Grande do Sul. Ok, em tese. Mas:

1) Lula resolveu nomear um petista, possível aspirante a governar o estado, para o comando da tal "autoridade". É ideia de jerico em termos políticos, um insulto ao princípio da colaboração apartidária na catástrofe e desprezo pela ideia de criar instituições com capacidade técnico-administrativa;

2) mais que uma "autoridade", é preciso criar uma instituição para trabalhos e projetos de construção e mitigação do desastre ambiental. Com qual critério será usado o dinheiro da reconstrução gaúcha? A instituição poderia começar por aí, se organizar no trabalho de tal projeto. Cadê?

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