Há indícios de que inflação deve voltar a cair ou dar algum refresco relevante ao menos para as expectativas. A deflação de preços ao produtor aumenta. O dólar está em tendência de queda desde fins de março. Há rumores de redução do preço da gasolina (embora o próprio governo Lula, segundo gente do Planalto, ainda não acredite nisso para já).
A dúvida maior está no ritmo de aumentos de salários e, em decorrência, da inflação de serviços. Do lado das expectativas, depende-se de quando e como vai ser aprovado o teto móvel de gasto de Lula (arcabouço fiscal) e do que será feito da meta de inflação.
O arcabouço deve sair um pouquinho mais apertado do Congresso, mas não o suficiente para modificar de modo relevante preços no mercado, taxas de juros e câmbio, e expectativas. Mas a aprovação vale alguma coisa. A fim de aproveitar e reforçar uma pequena onda favorável nos preços, conviria ainda que o governo enterrasse a discussão de mudança na meta de inflação, ao menos neste ano ou enquanto o ambiente estivesse tenso em relação a preços e ao futuro da política monetária.
O IGP-DI, indicador de inflação da FGV, está cada vez mais no vermelho. É o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, na maior parte, 70%, um índice de preços ao produtor ou quase isso (atacado e construção civil). Nos 12 meses até abril, a deflação do IGP-DI foi de 2,57%. Em março, de 1,16%. Em fevereiro, o IGP-DI ainda aumentava, 1,53%. Em abril de 2022, o aumento era de 13,53% em 12 meses.
Não se quer dizer que há repasse, sem mais, das melhorias dos índices de atacado para o consumidor. Mas a deflação do IGP ajuda. Houve baixa relevante dos preços de grãos, milho e soja, graças também à supersafra, de minério de ferro e diesel.
O preço do petróleo está comportado, embicando para baixo. A gasolina baixa ligeiramente no mercado relevante para o Brasil. O dólar em alta contribui. Por isso também há rumor de que em breve a Petrobras pode reduzir o preço da gasolina, pois o preço doméstico na refinaria estatal já estaria acima daquele do mercado externo que nos interessa.
Mais ou menos. A depender de quem faz a conta, a diferença estaria em quase nada ou em até 15%. Gente do Planalto diz "esperar" uma redução em breve, mas não sabe para quando. De resto, diz também que não está pronta a nova política de preços da Petrobras. Isto é, um modo de "abrasileirar" o custo do combustível na refinaria, o que seria feito de modo "muito responsável e que vai surpreender os críticos da mudança". Hum.
Não vai haver o milagre da desinflação, claro. A alta de preços é teimosa, no caso do setor de serviços é inflação de demanda, sim —uma baixa depende da moderação extra no aumento do salário médio.
Está acontecendo, mas bem devagar. Esperava-se que a mudança fosse notável já em abril, o que parece improvável, pois o ritmo de crescimento da atividade econômica surpreendeu, para cima, ainda que seja muito medíocre.
Quanto a expectativas, a melhora depende da aprovação desse arcabouço ligeiramente apertado pelo Congresso (mais pressão para que haja superávit primário e menos possibilidades de aumento de gastos). Depende do fim da conversa ora inconveniente sobre aumento da meta da inflação (quando esse bode entrou na sala, expectativas de alta de preços e taxas de juros azedaram). Parecem mais realistas (ou menos irrealistas) as perspectivas de aumento de arrecadação, dadas algumas vitórias e medidas do governo. Atingir a meta de superávit primário do governo fica menos difícil.
Como diz o lugar comum, há uma janelinha de oportunidade para conter a inflação. Não é reviravolta grande, mas o governo pode ajudar bem.
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