Passado o efeito mais crítico do El Niño, os produtos "in natura", que vinham pressionando o bolso dos consumidores, estão com comportamento mais moderado.
Os dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), referentes a março e divulgados nesta quarta-feira (3), indicam que os alimentos "in natura" ainda se mantêm em alta, mas com a menor taxa de evolução em seis meses.
O arroz, com a colheita avançando sobre um terço da área semeada, registrou a primeira queda de preços para o consumidor após sete meses em alta.
A menor oferta do produto no mercado interno nos últimos meses provocou uma alta acumulada de 30% nos preços de abril do ano passado a março último.
O feijão, que deu trégua para o consumidor no segundo semestre do ano passado, acumula alta de 16% no primeiro trimestre deste ano.
A Fipe inclui no grupo "in natura" frutas, legumes, verduras, ovos e os chamados tubérculos (batata, cebola e alho). As verduras, pela primeira vez registraram uma taxa negativa desde outubro do ano passado.
Na média, os preços das verduras recuaram 0,31% em março. Apesar da queda, a taxa acumulada no primeiro trimestre ainda é de 8%, mostrando os efeitos do clima sobre a produção e oferta desses produtos.
Os legumes, puxados pelo tomate, tiveram reajuste de 2,64% no mês passado, abaixo dos 4,9% de fevereiro. Esse era um setor que vinha pesando muito no bolso do consumidor, devido à alta de 9,5% no primeiro trimestre.
Já as frutas mantêm altas seguidas por nove meses. O setor é influenciado pela correção dos preços de banana, mamão, melão e laranja. Esta última acumula aumento de 34% nos últimos 12 meses, e só terá uma oferta maior em maio, após a entressafra.
João Paulo Bernardes Deleo, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) diz que o consumidor terá boas notícias a partir de agora. Já há uma tendência de queda em verduras e legumes, mas cada uma das culturas tem seu calendário específico.
Passado o efeito do excesso de chuva, provocado pelo El Niño, o produtor terá um controle maior da safra, obtendo melhor produtividade, principalmente com irrigação quando a planta necessitar de água.
Deleo diz que essa acomodação e até retração dos preços já começou e que vai ficar mais presente a partir dos próximos meses na safra de inverno, com maiores quedas em julho.
Segundo pesquisador, os preços ficam mais favoráveis para o consumidor até outubro, desde que não ocorra nenhuma anomalia na produção. A partir de novembro é iniciada a safra de verão.
As frutas têm um cenário um pouco diferente. Fernanda Geraldini, pesquisadora do Cepea, diz que o primeiro semestre sempre é de uma oferta menor.
Neste ano, há um excesso de chuvas no Nordeste, afetando o ciclo de desenvolvimento das plantas, e um volume menor no Sudeste. Qualidade e produtividade são afetadas.
Segundo a Fipe, a alimentação, na média geral, está com pressão menor neste mês do que no anterior. A alta foi de 0,78%.
A pressão de alguns produtos, no entanto, ainda continua forte no índice geral. Em março, apenas cinco itens do setor (leite, cebola, banana, tomate e feijão) foram responsáveis por 54% da composição da taxa geral de inflação, que ficou em 0,26% em São Paulo.
Outros cinco (batata, contrafilé, óleo de soja, alcatra e maracujá), no entanto, tiveram queda, impedindo uma alta maior do índice geral.
A carne bovina, sem reação dos preços do boi gordo no pasto, continua em queda. Já o leite é um dos focos de maior pressão neste início de ano, com alta de 10% nos supermercados.
A elevação de preços do leite para o consumidor é reflexo da menor oferta. Há quatro meses que o preço do produto sobe no campo, devido a uma captação menor.
Proteínas O brasileiro terá à disposição o recorde de 102 quilos de carne para consumir durante este ano. Isso é uma média, levando em consideração o total da população. Claro que muitos ficarão distantes desse patamar.
Proteínas 2 Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que estima uma produção total de 31 milhões de toneladas de carnes (bovina, suína e de frango) para o ano.
Exportações Deste volume, 10 milhões de toneladas serão exportadas, ficando 21 milhões no mercado interno.
Liderança A maior produção será de carne de frango, que atingirá 15,4 milhões de toneladas. A produção de carne bovina sobe para 10 milhões, e a de suínos, para 5,5 milhões.
Ovos O país produzirá 41,1 bilhões de ovos neste ano, uma média de 200 unidades por pessoa.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.