O deslocamento da produção mundial de alimentos nas últimas duas décadas fez os Estados Unidos perderem muito espaço no comércio mundial, lugar ocupado, em boa parte, pelo Brasil.
A ampliação acelerada do consumo na Ásia, principalmente com a evolução da classe média chinesa, favoreceu o Brasil nessa nova ordem econômica mundial.
Os chineses passaram a disputar, em grande escala, a compra de praticamente todos os alimentos no comércio mundial, de proteínas a grãos. Sempre que o Brasil teve produto à disposição, a preferência foi pelo mercado nacional.
No setor de grãos, o grande destaque foi a soja. Na década de 1970, os Estados Unidos detinham 90% do mercado mundial da oleaginosa. Já exportavam 20 milhões de toneladas no final daquela década. No ano passado, até novembro, as vendas externas somaram 44 milhões.
O Brasil, que começou os anos 2000 com exportações de 27 milhões, atingiu 102 milhões em 2023. Com isso, os brasileiros participam atualmente com 58% do mercado externo da oleaginosa, e os americanos, com 28%.
A China, que há duas décadas importava 21 milhões de toneladas, comprou 100 milhões no ano passado. Desse volume, 75 milhões saíram do Brasil.
Os americanos perderam espaço também no milho. Responsáveis por 84% do cereal transacionado no mercado externo na década de 1980, viram a participação cair para 60% em 2000. O percentual deverá recuar para 27% na safra 2023/24, conforme dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
O Brasil praticamente só entrou no mercado externo desse cereal a partir dos anos 2000, com a venda de 5,6 milhões de toneladas em 2001. No ano passado, colocou 55,9 milhões de toneladas no mercado externo, com participação de 29% nas exportações mundiais.
A China, sem uma presença importante nas importações de milho há uma década, entra nesse setor a partir de 2010, com a compra de 1,3 milhão de toneladas. Na safra 2023/24, porém, vai adquirir 23 milhões.
Uma mudança importante foi a aprovação do milho brasileiro pelos chineses, há dois anos. Após essa decisão, os chineses, que eram abastecidos em boa parte pelos americanos, entraram firmes no mercado brasileiro. Do volume exportado pelo Brasil no ano passado, 29% foram destinados aos chineses, que, em 2021, estavam ausentes do mercado nacional.
O mercado mundial de trigo também tem mudanças importantes. Na década de 1970, os americanos detinham 40% do mercado mundial. Nesta safra, deverão ficar com apenas 9%.
O Brasil não tem participação significativa em exportações nesse mercado. Em 2022, vendeu 3,1 milhões de toneladas, volume que recuou para 2,4 milhões no ano passado.
Os americanos vêm perdendo participação no mercado de trigo com o avanço dos europeus, dos australianos, dos russos, dos ucranianos e dos argentinos. Nesta safra 2023/24, a Rússia terá 51 milhões de toneladas de cereal disponível para exportação; a União Europeia, 36 milhões.
Com demanda maior por trigo, os chineses assumiram a liderança mundial em importações no ano passado, com a compra de 13,3 milhões de toneladas de trigo, e voltam a liderar neste ano com a aquisição prevista de 12,5 milhões, segundo o Usda.
No setor de proteínas, o Brasil eleva em muito a participação externa. Nos anos 2000, os americanos estavam entre os principais competidores do mercado internacional de carne bovina, com participação de 19%. Neste ano, deverão ficar com 10%.
O Brasil, que só começou a ter maior presença a partir de 2005, ficará com um quarto do mercado mundial neste ano. Os chineses, até 2012 fora da lista dos principais compradores mundiais, assumiram a ponta nos anos recentes e, em 2024, vão comprar 3,55 milhões de toneladas de carne bovina. Será transacionado um volume global de 12 milhões.
A participação dos chineses no mercado brasileiro foi decisiva para o Brasil aumentar a participação mundial.
Assim como na carne bovina, os brasileiros também têm a liderança mundial no setor de frango. Os Estados Unidos, que em 2000 detinham 44% desse mercado, estão com 24% agora. O Brasil saltou de 17% para 36% no mesmo período.
No setor de suínos, o Brasil vem aumentando tanto a produção quanto a exportação, mas ainda fica com apenas 15% do mercado externo, bem abaixo dos 38% dos americanos.
Os Estados Unidos perdem espaço no volume mundial das exportações, mas elevaram para US$ 36 bilhões ao ano as vendas de produtos com valor agregado, 228% a mais do que em 2000.
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