A produção agrícola brasileira avançou para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) neste mês apontam que o Centro-Oeste detém 50,6% da produção nacional de grãos, leguminosas e oleaginosas; o Nordeste, 6%, e o Norte 5,2%.
Com um volume nacional exportado de grãos cada vez maior, os portos do chamado Arco Norte passaram a ser indispensáveis para a saída do produto brasileiro para o mercado externo. De janeiro a setembro, 31 milhões de toneladas de soja deixaram o país por esses portos, um volume acima dos 27 milhões do mesmo período do ano passado.
A participação deles, em relação aos 87 milhões de toneladas exportadas neste ano, porém, caiu para 35,6%, abaixo dos 38% de janeiro a setembro de 2022.
Mesma tendência ocorre com o milho. Os 15 milhões de toneladas que saíram nos nove primeiros meses pelo Arco Norte representam 43% do total das exportações brasileiras. No ano passado, o percentual foi de 45%.
Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que verificou um aquecimento atípico no mercado de fretes de Mato Grosso em setembro. O custo do frete de Sorriso (MT) a Santos (SP) teve uma evolução de 8% de agosto para setembro deste ano. De Sorriso ao Arco Norte, não houve mudança no valor.
O efeito do El Niño no Norte, reduzindo o nível dos rios, vem afetando o transporte hidroviário em várias áreas da região neste segundo semestre. "O setor estava conseguindo atender a demanda crescente de produtos agropecuários, principalmente de grãos, mas dentro de um limite", afirma Elisângela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Para ela, a ausência de investimentos, inclusive na manutenção, como dragagem, derrocamento, balizamento e sinalização, impede a navegação permanente. Qualquer evento natural atrapalha toda a logística, afirma.
Elisângela avaliou as inúmeras planilhas da Antaq, referentes aos principais canais de escoamento, e constatou que o sistema hidroviário vinha apresentando redução na movimentação já em agosto.
Dois dos principais problemas ocorrem no Amazonas e no Madeira. Eles vinham com crescimento constante na evolução de carga em todos os meses deste ano, em relação a igual período de 2022. Em agosto, houve retração.
O Amazonas, que registrou aumento de carga transportada de 25% em maio, em comparação com o mesmo mês de 2022, reduziu esse percentual de elevação para 1,1% em julho e registrou queda de 12,3% em agosto.
O Madeira, também com evolução constante, chegou a aumentar em 22% o volume de carga nos meses de maio e de junho, mas movimentou 13% a menos em agosto. Os números são sempre em comparação com os dos mesmos meses do ano anterior.
Até agosto, foram movimentados 90,1 milhões de toneladas de carga pelas hidrovias do país. Durante todo o ano de 2022, o movimento havia sido de 116,5 milhões. Apesar da evolução do primeiro semestre, é possível que o volume deste ano fique apenas semelhante ao de 2022.
A grande pergunta, segundo a assessora técnica da CNA, é o que fazer com a constante evolução da produção agrícola da região sem um acompanhamento logístico do escoamento de grãos?
Pelo menos 55% do volume transportado pelo sistema hidroviário do país é composto por produtos do agronegócio, segundo Elisângela. Apenas os complexos soja (grãos, farelo e óleo) e milho somam 49,2% do volume. Entre os principais produtos estão soja, que representa 33,4%; milho, 13,2%; adubo, 2,9%, e celulose, 1,3%, segundo dados apurados pela assessora da CNA.
Um pouco de alívio para o setor é que o governo prometeu recursos para esse período de crise e a criação de uma secretaria exclusiva para rios. Além disso, na última quarta-feira (25), a Antaq e o Ministério de Portos e Aeroportos anunciaram a aprovação do PGO (Plano Geral de Outorgas) hidroviário.
Elisângela diz que o PGO tem como objetivo indicar os trechos de rios elegíveis e prioritários para o transporte de cargas e que serão disponibilizados para eventuais concessões.
A Antaq considerou o histórico de movimentação de mercadorias e estudos de projeção de demanda. Os trechos eleitos estratégicos, em virtude do alto volume de transporte e potencial de aumento de movimentação a curto prazo, são o complexo hidroviário Solimões-Amazonas (Barra Norte), a hidrovia do Tapajós, tramos sul e norte, e as hidrovias do Madeira, do Sul e do Tocantins.
O PGO indica que a rede hidroviária economicamente utilizada vem se mantendo em 19 mil km nos anos recentes, apesar da nítida expansão da movimentação portuária, em especial com o aumento de terminais na região Norte.
O potencial navegável é de 42 mil km, com algumas indicações de até 64 mil, segundo o relatório técnico da Antaq.
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