No domingo passado (14), Dia das Mães, um grupo de aproximadamente 50 homens armados emboscou e intimidou a ativista Neidinha Bandeira, o artista Mundano, mais seis indígenas e uma equipe de documentaristas em uma estrada que dá acesso ao posto de vigilância Barreira 2 da Funai.
A estrada fica na região do Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Burareiro, onde o Incra, na década de 1980, deu 122 títulos. A área já foi declarada terra indígena dos povos jupaú/uru-eu-wau-wau, amondawa, oro-win e de grupos em isolamento voluntário pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas. É, além de tudo, um local sagrado para o povo jupaú, pois fica ali um cemitério antigo. Há mais de 30 anos os povos indígenas da região lutam pela proteção e garantia do seu território tradicional e pela desintrusão dos invasores.
Durante a abordagem sempre hostil dos homens, Neidinha tentava explicar que ali é terra indígena demarcada e homologada e que qualquer título que incida sobre terra indígena é nulo conforme o Artigo 231 da Constituição Federal, enquanto os homens alegavam que os indígenas estariam invadindo propriedade privada. Imaginem ser acusado de ser invasor da sua própria terra originária.
Durante a década de 80, as disputas por esse território se aguçaram após o processo de colonização e expansão de fronteiras agrícolas em Rondônia; e mesmo com a demarcação da terra indígena, os conflitos não acabaram. Os indígenas dizem haver mais de 18 mil cabeças de gado ilegalmente dentro do seu território.
Além disso, a região da emboscada tem sofrido constantes desmatamentos, atentados contra seus locais sagrados e ameaças contra indígenas, impedidos de andar seguros e livremente em seu próprio território.
Urge que o Incra e a Funai retirem os invasores da terra indígena; aqueles que receberam títulos e permaneceram na área, sem que o governo tomasse providência, devem ser indenizados por suas benfeitorias e assentados em outro local.
A invasão de terras indígenas no Brasil desde a chegada dos colonizadores é sistêmica. Mas quem vem ganhando com isso? Se você seguir o rastro de sangue verá o lucro das invasões chegando aos grandes centros de poder do agronegócio.
De acordo com o relatório do De Olho nos Ruralistas, "ao todo, as sobreposições em terras indígenas englobam 1,18 milhão de hectares, uma área do tamanho do Líbano. Desse total, 95,5% estão em territórios pendentes de demarcação. Os dados também mostram que 18,6% da área sobreposta são utilizados para a produção agropecuária. Desse total, 55,6% são ocupados por pasto e outros 34,6% por soja".
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.