Os muitos títulos conquistados pelo Palmeiras, merecidamente, sob o comando do competente Abel Ferreira não atenuam as críticas ao comportamento desrespeitoso e grosseiro do técnico aos árbitros e auxiliares durante as partidas, além de chutar até microfones. Se ele fosse treinador na Europa, certamente não agiria dessa forma, nem se for convidado a ser técnico da seleção brasileira.
Abel disse, várias vezes, que não gosta dessa postura, mas que não consegue conter os impulsos e o desejo de vencer. Será só isso? Ou haveria também um desejo inconsciente de criar uma personagem, de se tornar um herói, além de tentar estimular os jogadores a vencer? Todo ser humano sonha em ser um herói, pelo menos em algum momento ou mesmo em pequenas coisas. Alguns, ainda mais narcisos, sonham em ser deus.
Outros treinadores que trabalham no Brasil, brasileiros ou estrangeiros, costumam também, em alguns momentos, ter um comportamento agressivo, colérico, na lateral do campo, como Pezzolano, do Cruzeiro, e Fernando Diniz, expulso na derrota do Fluminense, por 1 a 0, para o Botafogo.
Flamengo e Palmeiras fizeram um jogaço. Porém os dois times, muito mais o Flamengo, como é habitual nas equipes brasileiras, deixam muitos espaços na defesa para o adversário. O meio campo avança e os zagueiros não acompanham. Se não o fizeram, os treinadores brasileiros deveriam ter assistido à vitória do Manchester City, por 1 a 0, sobre o Arsenal, para ver como dois times avançam e recuam em bloco, o que é comum nas principais equipes europeias.
Além disso, o Flamengo, com exceção da época de Jorge Jesus, não pressiona com tanta eficiência para recuperar a bola no ataque. Não há também, no time atual, meias que voltam para marcar pelos lados. Gérson tem habilidade, avança bem, mas não combate nem se posiciona defensivamente, como fazia João Gomes.
O Palmeiras sofreu três gols muito mais pela qualidade do ataque do Flamengo do que pelos erros e deficiências de posicionamento da defesa. Normalmente, é o time brasileiro que marca melhor. As boas atuações de Gabriel Menino e de Raphael Veiga demonstram que a diretoria não precisa ter tanta pressa nas contratações. O que não se pode é achar, por causa de um jogo, que Gabriel Menino é um ótimo volante e uma solução definitiva. Ainda não é. Poderá ser.
No outro clássico, o Corinthians fez dois gols no primeiro tempo e recuou até demais, o que permitiu a pressão do São Paulo. Mesmo assim, garantiu a vitória por 2 a 1. Nos dois gols do Corinthians, as jogadas de Renato Augusto e de Róger Guedes foram belíssimas, com as conclusões de Adson. O Corinthians terá de contratar bons reservas para Róger Guedes e Yuri Alberto, pois terá uma longa maratona pela frente neste ano. Corinthians e Atlético são as duas equipes mais próximas de Palmeiras e Flamengo.
O São Paulo, repito, é um time intenso, agressivo, mas apressado e com pouco repertório coletivo e individual no ataque. Há um excesso de bolas cruzadas, com a esperança de que o atacante Calleri faça o gol. Os jogadores e o técnico Rogério Ceni ficam muito ansiosos para chegar à vitória e se tornarem heróis.
O futebol não necessita de heróis nem de vilões, embora seja uma prática comum a imprensa tentar criar essas personagens. O futebol precisa de conhecimento, de estratégia, de criatividade, de solidariedade e de talento individual.
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