Pego uma carona em uma ótima matéria, feita por Bruno Rodrigues, repórter da Folha, no domingo (6), com o título: “Grandes meias deste século agora pensam o jogo como técnicos”.
São citados Xavi, Lampard, Pirlo, Gerrard e outros. No passado mais distante, entre tantos, tínhamos também Beckenbauer, mistura de meio-campista com líbero, e Didi, o maior jogador da Copa de 1958 e técnico da melhor seleção peruana de todos os tempos, a da Copa de 1970. Dizem que não foi técnico da seleção brasileira porque era negro.
Todos esses meio-campistas tinham uma ampla visão do conjunto, mas, para ser um grande treinador, não basta ter sido um craque, nessa ou em qualquer outra posição. É necessário ter outras virtudes, conhecimentos e capacidade de comando.
Os grandes meio-campistas são os pensadores em campo. Possuem técnica e lucidez especiais para tomar decisões. Têm também passes precisos, símbolos do jogo coletivo. Atuam como se estivessem de cima, com um megacomputador instalado no corpo, para ver e medir todas as movimentações e detalhes dos companheiros e dos adversários.
Os grandes meio-campistas não são os que dão mais passes decisivos para gols, pois, diferentemente dos meias ofensivos (meias-atacantes), atuam mais longe da área, de uma intermediária à outra. São organizadores. Não são também os que passam a bola com mais acertos estatísticos, pois não se limitam a tocá-la para o lado, o mais fácil. Gostam do passe rápido e para frente.
Xavi gostava de dar o passe para o companheiro que tinha um adversário próximo. Este achava que daria para antecipar e, quando chegava na jogada, a bola já estava com outro. Assim, sucessivamente, o Barcelona trocava passes até o gol. Gérson, além dos magistrais e precisos passes longos, que ficaram na história, gostava da troca curta de passes, como Xavi, até esperar o momento certo de enfiar a bola.
Dizem que Pirlo, o novo técnico da Juventus, pretende escalar o brasileiro Arthur (ex-Barcelona) na posição em que o treinador jogava, centralizado e mais recuado, para iniciar as jogadas ofensivas. Arthur tem muitas virtudes, mas não possui o passe longo e correto de Pirlo.
Como regra, nos times que têm um trio no meio-campo, o que atua mais atrás e pelo meio é o mais marcador, o menos talentoso. Com Pirlo, era diferente. Algo parecido ocorreu na seleção brasileira de 1970. Gérson, o mais articulador, jogava entre Rivellino e Clodoaldo, o mais marcador.
Alguns grandes meio-campistas, como Falcão e Cerezo, não tiveram sucesso como técnicos, pelo menos até agora. Falcão, além de uma exuberante técnica, foi um bom comentarista e sempre, nas entrevistas, mostra uma ampla e inteligente visão do jogo coletivo. Não entendo por qual razão ele nunca está na lista das possíveis contratações dos clubes.
Os craques meio-campistas são a alma, a lucidez e a inteligência coletiva das equipes. O corpo executa os fundamentos técnicos. Assim como na vida, a alma e o corpo vivem juntos. Um precisa do outro. A separação, a divisão, é o caos, a esquizofrenia.
Esperança
Espero que na quinta (10) Corinthians e Palmeiras façam uma partida melhor que as últimas entre os dois rivais, bem jogada, prazerosa. Felizmente, aumentou bastante o número de pessoas, entre jornalistas esportivos e torcedores, que não querem saber apenas do resultado, a não ser dos extremamente utilitários e os amigos dos técnicos.
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