A professora Elisabeth Tenreiro, 71, era alegre. Defendia fervorosamente a vacinação e a ciência e trabalhou por muitos anos no Instituto Adolfo Lutz na área da saúde. Bem-humorada, postava nas redes sociais sobre química e biologia de forma espirituosa. Desafiando o etarismo, tornou-se professora na rede pública paulista aos 60 anos de idade. Gostava de samba e do Corinthians. Apesar da leveza deste prelúdio, leitor, o ofício de colunista impõe o fardo sufocante de escrever palavras duras.
Beth, como era conhecida por colegas e alunos, foi morta a facadas por um aluno de 13 anos na zona oeste de São Paulo na última segunda-feira (27). O adolescente tentara comprar uma arma de fogo online antes, sem sucesso. No Brasil, ataques violentos em escolas explodiram a partir de agosto de 2022, segundo dados da Unicamp e Unesp: foram nove ataques de extrema violência em oito meses; a média era um ataque a cada dois anos, mas passou a ser de um por mês.
Rapidamente, o governador paulista propôs policiamento permanente dentro das escolas e congressistas reaqueceram a redução da maioridade penal. Por trás da boçalidade bruta, há oportunismo penal
—como se policiais em sala protegessem professores e resolvessem a saúde mental de alunos— e venda de soluções fáceis para temas complexos. Recair no niilismo de que nada possa ser feito, tampouco, ajudará. Tornar as escolas mais seguras requer respostas multifacetadas.
Entre elas estão o monitoramento por inteligência policial preventiva de discursos de ódio online; regulação adequada das plataformas para lidar com ameaças de violência; ensino e extensão nas escolas para uma cultura de paz e contra bullying, envolvendo pais, professores, alunos e comunidade; expandir e ampliar programas de saúde mental de crianças e adolescentes; apoio psicossocial à comunidade escolar, em especial àquelas com medo da violência. Tornar escolas mais seguras é possível e urgente, mas requer políticas de paz, não cassetete.
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