Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Descrição de chapéu Israel oriente médio juros

Riscos para o Brasil em um mundo mais incerto

Não estamos em um momento ideal para gerar mais ruídos com as incertezas sobre as contas públicas

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O ataque sem precedentes do Irã a Israel elevou as preocupações com a atual escalada dos riscos geopolíticos, que podem ter capacidade de afetar a economia global de forma bastante negativa nos próximos anos.

A humanidade experiencia vários conflitos simultâneos, todos com potencial de se transformar em uma guerra mundial se alianças militares forem ativadas em resposta às ações hostis de adversários.

Ainda que escapemos do pior cenário, o mundo já está se fragmentando, colocando em xeque toda a integração econômica e a estabilidade financeira que trouxeram crescimento elevado com inflação controlada por tantos anos.

O aumento da instabilidade global chega em um momento em que os instrumentos de política de mitigação de riscos, como o fiscal e as medidas monetárias, estão excessivamente esticados nas mais importantes economias, com a inflação se mostrando mais persistente, enquanto as dívidas públicas e os déficits primários apresentam-se, hoje, bem maiores do que antes da pandemia.

As altas taxas de juros de longo prazo, nas mais diversas economias, são reflexo tanto da maior percepção de que será bem difícil trazer a inflação para as metas quanto da falta de propostas e ambiente político para a adoção de políticas fiscais menos expansionistas.

Um choque considerável nos preços de energia —que se seguiria, por exemplo, a um agravamento do conflito no Oriente Médio— seria capaz de interromper completamente a recuperação da indústria global e da confiança dos consumidores, trazendo de volta a possibilidade de uma recessão em escala mundial. Ainda complicaria sobremaneira o quadro de inflação nos EUA, que já não é dos mais favoráveis.

Se, com o petróleo nos níveis atuais, o Fed já está indicando que pode não reduzir os juros tão cedo, pior será com uma alta considerável de um insumo tão relevante, desancorando as expectativas de inflação.

Outros perigos estão se aproximando. Na Europa, dependendo da política externa que o próximo presidente americano e o novo Congresso adotarem em relação à Rússia, a segurança da região, que tem sido confiada, em grande parte, aos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ficará em risco. Os gastos militares da União Europeia devem aumentar significantemente, pressionando sua dívida, inflação e, em última instância, contribuindo como mais um fator de alta dos juros europeus.

Em paralelo, as relações entre Estados Unidos e China tendem a continuar tensas quem quer que leve a eleição, seja com a adoção de tarifas comerciais, seja com a continuidade de sanções e de políticas protecionistas. Um possível conflito entre China e Taiwan está longe de ser descartado, e a reunião da semana passada de Joe Biden com o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, e o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., reforçou os laços de defesa entre essas nações, em oposição à China.

E, quando o cenário externo se complica, como fica o Brasil? Em um momento em que os investidores estão mais cautelosos, não é recomendável gerar ruídos. Mas infelizmente é isso o que justamente vem acontecendo, em particular, em relação às contas públicas.

A mudança da meta do resultado primário de 2025, sem nenhuma proposta de contenção de gastos relevante, foi apenas mais um choque na credibilidade das contas públicas e na sustentabilidade de nossa dívida. Uma semana antes, já havíamos aprovado a antecipação de R$ 15,5 bilhões em gastos —uma mudança importante na lei do arcabouço fiscal— que expressa o pouco afinco com o controle da despesa.

A verdade é que a corrosão fiscal não é recente; basta lembrar a aprovação da PEC da Transição, em 2021. Mas, agora, diante de um mundo repleto de riscos, esse processo reverbera com mais intensidade —o real é uma das moedas com pior performance no ano, enquanto as taxas de juros reais longas saíram de um nível perto de 5,5% para perto de 6%.

Ainda estamos longe de um cenário de crise fiscal que vivemos antes de o teto de gastos ser criado, mas a direção da deterioração das contas públicas junta-se às tentativas de intervencionismo e ao receio da volta de políticas parafiscais.

Para completar o quadro de incertezas, teremos ao final deste ano mudanças no comando do Banco Central, que já vem sofrendo pressões por sinalizar que todas essas incertezas poderão levar a uma política monetária mais restritiva. Definitivamente não estamos em um momento ideal para gerar mais ruídos.

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