Uma das maiores contribuições dos técnicos portugueses neste prolífico período na Série A do Campeonato Brasileiro são as entrevistas coletivas pós-jogo.
Invariavelmente temos aulas de tática de Abel Ferreira, Vítor Pereira ou Luís Castro; e vale menções honrosas para António Oliveira. Até na irritação as respostas são melhores.
Abel e VP já mostraram a face rabugenta, muitas vezes misturada com sincericídio, em coletivas. Se Abel é mais belicoso na beira do campo, aparentemente, VP chega mais armado às entrevistas. Claro que há o detalhe nada pequeno de que VP tem perdido mais jogos que Abel.
O querido Vítor Pereira já deu algumas derrapadas feias no caminho. Treinar o Corinthians não é fácil, já diria o filósofo… Sócrates, talvez.
Certa vez, quando questionado sobre queixas de jogador que não era titular, mandou um "eu também queria treinar o Liverpool, mas não posso". É praticamente uma torta na cara. Este humilde colunista até entendeu o humor na respostinha de VP, mas a torcida não gostou, e ele teve que pedir desculpas.
Outra vez, depois de uma derrota para o Palmeiras, algum coleguinha da imprensa (sempre eles), perguntou se o técnico temia a demissão. "Você deve estar a brincar comigo. Sabe quanto dinheiro eu tenho no banco, amigo?" Torta na cara 2.
VP mais uma vez pediu desculpas para a torcida.
Mas pela coletiva pós-jogo desta quarta (26), após a derrota para o Fluminense, o português não tem que pedir desculpa.
Ok, a única pergunta que todo o mundo que segue o Corinthians quer fazer é: Vítor Pereira vai renovar? O problema é que o míster tem sérias questões pessoais envolvidas, incluindo a doença da sogra, que impediria sua mulher de se mudar para o Brasil.
O próprio presidente Duilio Monteiro Alves, provavelmente antevendo a tempestade que seguiria, apareceu na coletiva e avisou: "Neste ano, o campeonato termina no meio de novembro, então, temos tempo para tomar decisões". E depois emendou: "O Vítor tem uma questão familiar para resolver. Peço que o torcedor entenda…"
Mas a turma sedenta na frente de Duilio e VP não estava lá para entender.
A primeira pergunta já foi na linha "você só vai responder ao presidente depois do Brasileiro mesmo?". Foi uma tentativa quase carinhosa, mas não rolou.
Então, veio a segunda, na jugular: "A informação [!] que a gente tem é que sua esposa quer que você vá [para Portugal], e você quer ficar. Quem manda na sua casa, você ou sua esposa?".
É daqueles momentos em que se perde um debate, em que um Jedi ativa o sabre de luz, em que um dragão grande come um pequeno.
VP até tirou o casaco, e provavelmente pensou em algum mantra budista antes da réplica. Foi o mais polido possível. "Como sou mais educado que o senhor, não vou responder", disse… três vezes. Desta vez, foi o jornalista que usou suas redes sociais para se desculpar.
O fato é que Vítor Pereira tem, sim, muito dinheiro no banco. E tem o suficiente para não precisar ter o saco que é necessário para aguentar alguns golpes abaixo da linha de cintura.
Mas eu adoraria ver VP um ano completo em uma equipe brasileira, com tempo para treiná-la como quer, com as contratações no perfil que desejar. O campeonato certamente ganharia. É só observar a diferença do Palmeiras de Abel ano 2 para o de Abel ano 1.
Provavelmente a relação com a imprensa não será fator na decisão de VP. O futebol brasileiro precisa mais dos técnicos portugueses do que eles de nós, no momento. Ou alguém quer voltar aqui às respostas "isso pertence ao futebol"?
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