Quem acompanha os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 no Brasil pela TV depende basicamente de três figuras para entender o que se passa nas transmissões: o narrador, o comentarista e o repórter in loco, que já traz a entrevista no calor do momento de alegria ou tristeza.
É aquele papo que nenhum atleta ou técnico gosta de ter, e o público está louco para ouvir.
E assim como se renovam os atletas, a cada ciclo olímpico novas figuras aparecem nessa trinca da informação televisiva, principalmente nos comentários —até porque, na narração, Galvão Bueno, o de vida eterna, não larga o osso.
Nos Jogos de Tóquio, há ótimas novidades. Se tivesse que fazer um pódio dos comentaristas, a medalha de ouro de Tóquio-2020 iria para César Cielo e seu gostoso sincericídio do recorde.
Sabe quando você vê Cristiano Ronaldo, LeBron James ou outro monstro sagrado batendo um recorde, e o cara “batido” fala que não ligava e que está contente porque sua marca foi superada? Pois é. Tudo mentira.
Cielo vibra a cada vez que o americano Caeleb Dressel (o mais perto de Michael Phelps da vez) não consegue bater seu recorde nos 50 m ou nos 100 m livre.
“Não é fácil, nos 100 m livre eu quase quebrei o microfone, pessoal [da produção] chamou a minha atenção”, brincou Cielo em programa do SporTV, canal de esportes do grupo Globo para o qual comenta.
“Não vou mentir para você, não, eu não torço contra, mas eu não vou torcer a favor”, completa (jeito gentil de dizer que torce contra, sim).
O comentarista de natação ainda fala meio rápido às vezes —tudo bem, sempre foi velocista. Também não refresca nem com a equipe brasileira, recheada de atletas que nadaram com ele. Não tem receio em dizer que o brasileiro foi mal, quando é claro que foi mal, ao contrário de muitos, muitos, muitos comentaristas, que tentam sempre amenizar a barra dos amiguinhos que não se saíram bem.
Menção honrosa na natação para a pernambucana Joanna Maranhão, que, além de seu delicioso sotaque, tem sempre bons comentários tanto na parte atlética como na psicológica.
Mas a medalha de prata é para a já citada por esse colunista Karen Jonz, que estreou junto com o skate nos Jogos.
Karen “xerecou”, “viadou”, deu um baile no narrador (ou slide reverse, para ficar na linguagem do esporte) e, melhor, esforçou-se para falar em português durante a transmissão. Parece simples, mas o skate mostrou que nada é simples.
E tem surpresa no bronze dos comentaristas: Jade Barbosa!!! Sim… (Jade vai chorar ao ler isso, certeza).
A Globo/SporTV tem um time completo de ginastas nos comentários: Daiane dos Santos, Jade e os irmãos Daniele e Diego Hypólito. Talvez a menos badalada do quarteto, Jade, que já chorou muito em provas e sempre conviveu com contusões, tinha comentários sóbrios e ponderados, tanto no pódio de Rebeca Andrade como na questão de saúde mental, tão mencionada devido a Simone Biles.
Também vale citar Renata Mendonça com o futebol feminino nas menções honrosas, e a turma do judô, apesar de um ufanismo moderado.
Em esportes que provavelmente só voltaremos a ver daqui a quatro anos, teve um revezamento da turma “vamos Brasillll” com o necessário “comentarista guia dos curiosos”. “Você sabia que a peteca do badminton pode ir mais rápido que um carro de F1?”
Voltaremos a narradores e repórteres in loco em breve, mas adianto que nesses casos a transmissão olímpica vive um drrraaaaamaaa, amigo.
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