Foi-se o tempo em que tirar um segundo lugar, seja na Fórmula 1 ou num concurso de pizzas, era algo a se contar aos netos. Hoje, é motivo de opróbrio, pior do que ser o lanterna do campeonato. Mas, pensando bem, isso vem de longe.
Em setembro de 1968, "Caminhando", de Geraldo Vandré, perdeu para "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque, na primeira fase do Festival Internacional da Canção. Foi um choque. Não só o Maracanãzinho inteiro apostava em "Caminhando" como o próprio Vandré tinha certeza da vitória. Mas as 20 mil pessoas nas arquibancadas não votavam. O júri, sim, e ele preferiu "Sabiá".
Em seu apartamento, em Ipanema, Nelson Rodrigues assistia pela TV. E ele viu, em big close, o que a plateia não podia ver: o rosto crispado de Vandré, revoltado com a segunda colocação. Depois de um minuto de silêncio, sentindo-se vingado pela vaia em uníssono ao júri, Vandré declarou: "Festival não é tudo!". Com o que desmereceu seus amigos Tom e Chico, o próprio festival e até mesmo sua contagiante toada. Nelson, horrorizado, escreveu em sua coluna no Globo que, em vez disso, Vandré deveria ter ligado empolgado para casa: "Mamãe! Mamãe! Tirei o segundo lugar! Tirei o segundo lugar!".
Tive a mesma reação de Nelson ao observar o craque Mbappé depois da derrota de seu país para a Argentina, na final da Copa. Não o vi abraçar Messi, seu companheiro de clube, nem cumprimentar os vencedores. Ao contrário, parecia a ponto de sair quebrando caras. Como Vandré, ele também deveria ter ligado para a mãe: "Maman! Maman! Tirei o segundo lugar!".
Mas, entre os que não sabem perder, ninguém supera Jair Bolsonaro. Derrotado na eleição, ele continua abobalhado e em estado de choque, para decepção de seus futuros ex-seguidores. Seria diferente se, finda a apuração, ele tivesse ligado para sua mãe ou, na falta desta, a tia: "Titia! Titia! Tirei o segundo lugar!".
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