Ao afirmar, domingo último (16), que, em matéria de musicais clássicos, nem tudo era Hollywood, citei as chanchadas do cinema brasileiro. Eu sei, pelo fato de o principal diretor delas se chamar Carlos Manga e seus cenários às vezes incluírem bananas, os esnobes as chamavam de abacaxis. Era uma injustiça —vide o definitivo livro de Sérgio Augusto, “Este Mundo é um Pandeiro” (1989).
Muito do que de mais vibrante se fez em música por aqui estreou nas chanchadas, e desde o começo do cinema sonoro. Em “Alô, Alô, Carnaval” (1936), por exemplo, nasceram “Pierrô Apaixonado”, com Joel e Gaúcho, ”Cadê Mimi”, com Mario Reis, e “Cantores do Rádio”, com Aurora e Carmen Miranda. Em “Banana da Terra” (1939), “A Jardineira”, com Orlando Silva, e “O Que é Que a Baiana Tem”, também com Carmen.
Mas o futuro é que seria empolgante. De “Carnaval no Fogo“ (1949), saíram “Marcha do Gago”, com Oscarito, “Balzaquiana”, com Jorge Goulart, e “Daqui Não Saio”, com os Vocalistas Tropicais. “Aviso aos Navegantes” (1950) tinha “Marcha do Neném”, com Oscarito, “Beijinho Doce”, com Eliana e Adelaide Chiozzo, e “Tomara Que Chova”, com Emilinha Borba. E a trilha de “Tudo Azul” (1951) era incrível: “Estrela do Mar”, com Dalva de Oliveira, “Lata d’Água”, com Marlene, “Mundo de Zinco”, com Jorge Goulart, “Maria Candelária”, com Blecaute, e “Sassaricando”, com Virginia Lane.
“Carnaval Atlântida” (1952) era classudo: trazia “Ninguém me Ama”, com Nora Ney, e “Alguém como Tu”, com Dick Farney. “De Vento em Popa” (1957) tinha “Dó-Ré-Mi”, com a fabulosa Doris Monteiro. “O Camelô da Rua Larga” (1958), nada menos que “Ouça”, com Maysa. E “O Homem do Sputnik” (1959), o arrasador “Mademoiselle BB”, com Norma Bengell.
A música era esfuziante e a comédia, sacana, maliciosa. Alguns dos filmes se perderam e quem viu, viu. Outros, um dia, renasceram em DVD e se escondem hoje em alguma nuvem.
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