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� senador pelo DEM-GO.
Escreve aos s�bados,
a cada duas semanas.
Crime organizado est� mesmo no comando
Renato Costa/Folhapress | ||
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O ministro da Justi�a, Torquato Jardim, que disse que comandantes da PM do Rio s�o s�cios do crime |
Houve um tempo, na hist�ria humana, em que o portador de m�s not�cias era sacrificado pelo simples fato de t�-las transmitido.
A pr�tica irracional acaba de ser restaurada em rela��o ao ministro da Justi�a, Torquato Jardim, alvo de cr�ticas ferozes por ter dito o �bvio: que, no Rio de Janeiro, os comandantes da Pol�cia Militar, com honrosas exce��es, "s�o s�cios do crime organizado". E ainda: que o governador Pez�o e o secret�rio de Seguran�a, Roberto S�, n�o t�m controle sobre esse quadro.
Menciona ainda um deputado estadual, que estaria no comando da baderna. A rigor, falou pouco —e o �bvio.
Omitiu o fato de que n�o apenas os comandos da �rea de seguran�a est�o contaminados pelo crime mas todo o aparelho do Estado, como o demonstra o fato de quase todos os integrantes do Tribunal de Contas estarem presos, assim como dois governadores que precederam o atual, Anthony Garotinho e S�rgio Cabral (o primeiro em regime de pris�o domiciliar).
A trag�dia vem de longe —e qualquer morador do Rio sabe disso. O ministro nem foi a primeira autoridade do atual governo a diz�-lo.
Antes, quando da interven��o militar na Rocinha, em setembro, seu colega da Defesa, Raul Jungmann, havia feito a mesma constata��o: que, no Rio, o crime organizado havia "capturado o Estado".
Curiosamente, por�m, n�o provocou as rea��es de agora. O inc�modo causado � apenas mais uma anomalia, mais uma tentativa de forjar uma indigna��o pelo avesso.
Surpreendidos com a exposi��o nua e crua da verdade, algo sempre evitado, agentes p�blicos, no Rio e em Bras�lia, voltam sua f�ria contra o alvo errado. Pez�o, personificando a f�ria dos infratores, quer —vejam s�!— processar o ministro.
O erro estaria n�o no fato em si —a contamina��o do Estado pelo crime organizado—, mas na sua revela��o. Querem combater a febre quebrando o term�metro.
O ministro, segundo essas autoridades, deveria ter agido de outra forma: em vez de falar, deveria tomar provid�ncias. Ora, n�o lhe cabe intervir num Estado que desfruta de autonomia federativa, como n�o lhe cabe tamb�m, como maior autoridade nacional do setor, silenciar em face da gravidade dos fatos.
Cumpriu seu dever. Se se mantivesse calado, a� sim, seria c�mplice de tal aberra��o. � pedag�gico que tal situa��o ocorra no momento mesmo em que o F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, por meio de seu 11� Anu�rio, divulga dados estarrecedores do quadro de insolv�ncia do setor.
Aumentaram as mortes violentas no Brasil em 17 dos 26 Estados no �ltimo ano. E o Rio, com crescimento de 24%, nem � o Estado mais violento. O trof�u cabe ao Amap�, que registrou aumento de 52% entre 2015 e 2016.
S�o nada menos que 61.619 casos de homic�dio —sete por hora! Para que se tenha uma ideia do tamanho da trag�dia, a m�dia de mortos civis na guerra da S�ria � de 35 mil por ano. E na Guerra do Vietn�, em dez anos, morreram 60 mil soldados americanos. Temos aqui um Vietn� por ano.
Os casos de latroc�nio, por sua vez, aumentaram 58% em sete anos no Brasil, com Goi�s ocupando a vice-lideran�a.
Enquanto isso, os tr�s Poderes parecem viver uma realidade paralela, colocando em risco di�rio a sobreviv�ncia f�sica da popula��o.
Quando algu�m rompe a cortina de sil�ncio e diz o �bvio, � imediatamente crucificado. A paci�ncia da sociedade chegou ao limite.
Nem se trata de guerra civil, que pressup�e dois lados em combate. O que h� � um massacre civil, sem precedentes, que confirma a triste realidade de que o crime organizado est� mesmo no comando, com seus tent�culos estendidos por amplos setores da administra��o p�blica.
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