� senador pelo DEM-GO.
Escreve aos s�bados,
a cada duas semanas.
Coragem para mudar
Mais que de transi��o, � de emerg�ncia o futuro governo de Michel Temer. Herdar� um pa�s em frangalhos, com tudo por fazer e refazer: na economia, na pol�tica e na autoestima do Brasil.
N�o h� tempo a perder e n�o h� espa�o para errar. O pa�s j� esperou, sofreu e errou demais. A for�a capaz de nutri-lo –e � essencial que n�o se perca isso de vista– n�o vir� das c�pulas partid�rias nem dos arranjos, por mais engenhosos, de bastidores ou do atendimento a interesses corporativos.
Vir� das ruas, da fonte e origem de todo esse processo, que levou ao fim a Era PT. � esta a peculiaridade deste momento hist�rico: n�o foram os partidos que moveram a popula��o, mas o contr�rio. Foi o clamor das multid�es que levou os partidos a agir.
Temer, embora detentor de prest�gio no campo jur�dico e de densa bagagem pol�tica, chega ao poder sem o lastro de uma elei��o nele focada. Foi eleito como vice; teve, portanto, votos, mas por tabela. Ter� de compensar buscando interpretar as multid�es que apearam a presidente.
Tancredo Neves viveu, em outra circunst�ncia, essa realidade. Capitalizou a frustra��o das Diretas J� e arrastou ao col�gio eleitoral a expectativa popular. Itamar Franco fez o mesmo: governou para a sociedade, e n�o para os partidos. Esse gesto deu-lhe a for�a moral de que carecia para cumprir a miss�o.
Cabe ao futuro presidente dar sinais claros de que n�o far� dessa ocasi�o singular mera reprodu��o do modelo que acaba de ruir. N�o pode fazer do Estado e de seus cargos moeda de troca pol�tica, buscando nessa pr�tica, variante do mensal�o, a fonte da governabilidade. N�o funciona, como constatou tardiamente a presidente Dilma Rousseff.
Deve, isso sim, pautar-se em dois exemplos que nos v�m da Argentina: o presidente Mauricio Macri e o papa Francisco.
O primeiro enfrenta, sem hesitar, o populismo institucional dos Kirchner, adotando medidas amargas, corajosas e necess�rias � reconstru��o do pa�s; o segundo, ciente da efic�cia e da for�a do exemplo –e a pol�tica move-se tamb�m em torno de s�mbolos–, abdicou de luxos pessoais e adotou h�bitos simples, que o identificam com a realidade sofrida em que vive o povo.
E o que querem os milh�es que foram �s ruas? Um Estado mais eficiente e enxuto, mais transparente. Um Estado em que a sociedade se veja refletida. Deve, portanto, cortar mordomias, a come�ar pelas de seu pr�prio cargo. Menos promessas e mais a��o, eis, em s�ntese, a receita.
Nada de comitivas gigantescas em viagens ao exterior ou de cargos in�teis em profus�o; trocar o car�ssimo Airbus por um jato da Embraer. Numa palavra, aproximar-se do povo, reduzir o abismo que o separa dos governantes; munir-se de autoridade moral para pedir sacrif�cios a uma sociedade que j� contabiliza mais de 11 milh�es de desempregados.
Os primeiros sinais n�o s�o alentadores. Temer, ao que parece, recuou do an�ncio de que cortaria � metade os minist�rios –e j� discute com os partidos o seu loteamento. Repete a� o PT.
S�o hoje 32 minist�rios. Oscar Niemeyer projetou a Esplanada com 17 pr�dios; Juscelino, que a inaugurou, governou com 12 ministros. E h� ainda os milhares de cargos em comiss�o, criados n�o para atender o p�blico, mas � milit�ncia.
� preciso sinalizar desde o in�cio que se inaugura de fato uma nova etapa, com mudan�a radical de rumo. Para tanto, � preciso coragem, ousadia. Temer precisa deixar claro que n�o postula reelei��o, que fala para a hist�ria, e n�o para os partidos.
Coragem, presidente. Se a demonstrar, ter� o povo a seu lado –e, tendo-o, nada ser� capaz de amea��-lo.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade