Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu
Eleições nos EUA

Agora é que Trump ganhou

No momento em que perdoou o filho, Biden anistiou o republicano de todas as trambiquices que já fez e virá a fazer

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Devido a um engano qualquer, os jornais noticiaram que o ainda presidente americano Joe Biden concedeu um indulto ao seu filho Hunter. É preciso ser mais rigoroso, porque não foi só isso que aconteceu. Biden concedeu um indulto ao filho e uma anistia a Donald Trump. Tudo ao mesmo tempo.

No preciso momento em que perdoou o filho, Biden anistiou Trump de todas as trambiquices que já fez e das que virá a fazer. Talvez possamos parar de conjecturar sobre a razão pela qual candidatos como Trump obtêm tantos votos. Será por eu ainda usar as terríveis palavras denegrir e esclarecer?

Será pela nossa recusa em passar a dizer "todes", "amigues", e fazer com que todas as palavras passem a acabar em "e" —com a óbvia exceção da palavra presidente, que já acaba em "e" mas tem mesmo de passar a acabar em "a" porque é indispensável ser presidenta?

No desenho estão o presidente Biden e o futuro de novo presidente dos EUA - Trump - ambos vestindo terno, camisa, gravata e broches da bandeira dos Estados Unidos. Sentados em poltronas bem pertinho um do outro apoiando os braços sobre a mesma mesa. Seus cotovelos se encostam. Biden está com o braço esquerdo quase que sobre o braço direito de Trump. Ele tem o olhar baixo por estar escrevendo à caneta um documento dedicado ao seu filho Hunter Biden. Ao seu lado está Trump com as mãos juntas sobre duas folhas de papéis em branco, sendo a mão direita fechada  e a esquerda aberta sobre ela. Ele tem o olhar vago e semblante sério para não dizer, emburrado.
Luiza Pannunzio/Folhapress

A princípio —surpresa!— isso é totalmente irrelevante. Talvez sejam outras coisas. Por exemplo, há quem tente impor a ideia segundo a qual há uma trambiquice do bem e uma trambiquice do mal.

Creio que o povo —que, me lembro, é quem manda— não tem o paladar suficientemente apurado para distinguir as sutilezas da trambiquice. Quando vê trambiquice, curiosamente, considera que está a ver trambiquice, em vez de ter a sofisticação necessária para distinguir a boa da má.

Joe Biden tentou dar uma ajuda, dizendo esperar que o povo americano compreendesse a razão pela qual um pai e um presidente tomariam aquela decisão. É mais provável que os americanos tenham entendido que, ao contrário do que pensavam, não tinham eleito um presidente, mas alguém que é um presidente e um pai.

Infelizmente, não é o seu pai. Os eleitores que fogem dos impostos e são acusados de crimes continuam a ser julgados. Só o eleitor que é filho do presidente é quem usufrui do direito de ser indultado.

Donald Trump já tinha conseguido a proeza de transmitir a ideia de que não pertence à elite quando é um milionário que tem o privilégio de não pagar impostos, e já se tinha apresentado como o salvador que vai "drenar o pântano" quando a sua conduta dificilmente poderia ser mais pantanosa.

Agora, com a ajuda de Joe Biden, o futuro presidente dos Estados Unidos obtém a última vitória: ele pode se apresentar como uma pessoa normal.

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