Um olhar menos atento faz com que muitas pessoas não enxerguem a diferença entre humor e música, e até que considerem que são aparentados. O fato de tanto o músico como o humorista estarem muitas vezes no palco, perante uma plateia, segurando um microfone, contribui para a confusão.
E, no entanto, basta olhar para o modo como cada um se relaciona com o microfone, por exemplo: Para o cantor faz parte do espetáculo, ele inclina o pé do microfone como se estivessem a dançar juntos; para o humorista o pé do microfone é uma peça de mobiliário que lhe é estranha.
O músico, normalmente, está confortável no palco. É a sua casa. Para o humorista, é quase sempre um lugar hostil. O mesmo vale para a relação com o público. O público que vai ver um espetáculo de comédia é um adversário que o humorista tem de sacudir com a gargalhada.
Mas o público que vai a um concerto é um amigo do cantor, que vai para ser embalado. O público do concerto está com o músico: conhece as canções e canta-as com ele. Simpatiza com a emoção que o músico exprime e sente-a também, através da música.
O público da comédia não quer ouvir os grandes êxitos do humorista, pelo contrário: exige ser surpreendido. Mesmo que conheça o humorista, quer que ele se apresente como um estranho que diz coisas novas.
O público reconhece as emoções que o cantor exprime, porque também já as experimentou, e às vezes chora ao senti-las de novo; e mesmo quando reconhece os pensamentos que o humorista confessa, porque também já lhe ocorreram, ri-se dele, porque não são coisas que se confessem em público.
A música eleva, mesmo quando o cantor se rebaixa; a comédia rebaixa, mesmo (ou sobretudo) quando o humorista se diz elevado.
No dia 20 de março de 1965, durante uma atuação no The Andy Williams Show, Jerry Lewis caiu no palco. A queda causou-lhe uma lesão da qual nunca mais haveria de recuperar. Dessa vez, a queda foi involuntária, mas toda a gente pensou que era proposital.
"Afinal", diz Lewis numa autobiografia, "eu tinha passado uns bons 25 anos a cair nos palcos." Jerry Lee Lewis pode cantar quedas metafóricas; Jerry Lewis apresenta quedas reais (que além disso também são metafóricas).
É possível que humor e música se concentrem na queda, mas o humor concentra-se no movimento de cair, e a música no ato de se reerguer. Talvez seja por isso que temos um hino nacional, mas não uma piada nacional. Piadas não mobilizam ninguém para a guerra. Aliás, o mais provável é que desmobilizem. Ainda bem.
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