A vitória de Javier Milei na Argentina e a liderança de Donald Trump nas pesquisas nos fazem lembrar que o fascismo é como Jason, o psicopata mascarado de "Sexta-Feira 13".
Em todo filme, Jason morre no final. Mas os produtores, de olho nas bilheterias, inventam os truques mais baratos para ressuscitá-lo em um novo título da franquia.
Jason já foi ressuscitado em alto-mar, graças a uma âncora que arrastou um cabo elétrico por cima de seu cadáver.
Em outro filme, ele acordou de sonhos intranquilos ocorridos num processo de criopreservação. Noutro, depois de esquartejado, teve seus restos mortais levados ao necrotério e lá acabou sendo incorporado por um legista canibal, que devorou o seu coração.
O fascismo já ressuscitou com bigodes, fardas militares, penteados escalafobéticos. Já tomou a forma de galinhas verdes. Recentemente, aqui no Brasil, ressurgiu sob a forma de um verdadeiro burro.
Há tempos, as redes sociais ampliaram as bolhas e alteraram nossa relação com a passagem do tempo. Tudo passou a ser urgente. Todos estão exaustos, os estímulos não cessam. O fascismo se alimenta de grupos que se unem em torno de ressentimentos e buscam soluções simples e definitivas para questões que são complexas e impermanentes.
A obsessão por balancetes trimestrais lucrativos a qualquer custo desumaniza as relações. A apatia é mais rentável que a empatia. Ambientes privados são tidos como mais seguros e divertidos, mesmo que cobrem R$ 12 por um copo de água. Serviços públicos que nunca atenderam a população passam a atender meia dúzia de empresários. O fascismo se alimenta da ganância.
O fanatismo religioso, a escassez de ideias, de pensamentos e de debates que contornem o binarismo empobrecedor entre esquerda e direita, a falta de paciência e de compreensão de que todo arranjo humano tem sua dose de imperfeição, toda comunicação tem sua dose de ruído e todo desejo tem sua dose de frustração, tudo isso alimenta o fascismo.
Mas o que se pode fazer se uma nova franquia fascista está sempre pronta a repetir o mesmo filme, como em uma sessão interminável de "A Volta dos que Não Foram"? Talvez encarando a ameaça com inteligência e profundidade.
Não existem respostas fáceis para temas complexos. Não se mata o fascismo de forma simples, usando a serra elétrica.
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