O segundo turno levou o Brasil a uma nova polarização. Agora estamos divididos entre senhores feudais, clero e plebe. Nem sequer chegamos à época dos déspotas esclarecidos.
Nesse contexto, é natural que o debate se desenvolva ao redor de temas de primeira necessidade, como o satanismo e a maçonaria. As profundezas se moveram para que tenhamos um ambiente favorável ao início do ritual macabro que evoca a grande força sinistra que move o terceiro mundo desde sempre —o centrão.
Aí que se dá a cena que segue: tambores sinistros batem. Balinhas de menta são distribuídas. Termos em latim voam aos quatro ventos. Cargos são distribuídos. O lodaçal político se move por debaixo do pântano enquanto, numa caverna escura, uma voz cadavérica ressoa: "Antigos espíritos do mal, transformem essa forma decadente em TEMER! O ser de vida eterna!".
Transfigurado numa figura colossal com poderes místicos, Temer apresenta suas condições para firmar um pacto com Bolsonaro. "Apoiá-lo-ei", diz a entidade máxima do centrão logo que o vórtice de uma tempestade se dissipa. Temer oferece uma ovelha envolta em óleo de peroba e mistério.
"O que que eu faço com isso daqui?", pergunta Bolsonaro. "Lactetis ovibus hoc mammis et hoc lac his qui vos sustentant distribuite", responde uma voz cavernosa que parece sair das entranhas de Temer. Bolsonaro recorre aos Cavaleiros que Dizem Minion: "Que porra é essa?".
Eis que um sopro ressoa nos ouvidos de Michelle a tradução em sânscrito. E Michelle transcreve para o português a seguinte frase com caneta Bic em cima de um cheque em branco: "Mamai nas tetas desta ovelha e distribua este leite àqueles que te apoiam".
A ovelha, num ato grandioso, se manifesta: "Mééé". O que é interpretado como um milagre e uma prova de que o PT possui laços com Gargaméééél.
Bolsonaro e Temer se posicionam no topo do desenho de uma pirâmide traçado no chão, em cuja ponta se vê o olho de Carluxo, e firmam um pacto.
Desse pacto surge uma canção em escala pentatônica que, se ouvida ao contrário, significa o seguinte: "Aborto, drogas, religião, satanismo. O presidente da República não tem poder para fazer nada disso que está sendo discutido. Parem de discutir esses assuntos e olhem para quem está passando fome".
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