� rep�rter especial. J� foi correspondente em Washington, Nova York, Pequim e Buenos Aires, e editor de 'Mercado'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Gays no esporte
Ser� que os torcedores argentinos sairiam ilesos de uma eventual vit�ria no Maracan� na Copa de 2014? Nossa torcida verde-amarela saber� receber turistas estrangeiros que t�m todo o direito a torcer para os seus times? Ou se a Alemanha ou a Espanha nos derrotarem, a gente vai pegar "na sa�da" os seus torcedores?
O mais importante "imagina na Copa" � esse. N�o tem aeroporto novinho e metr� que jamais ser� constru�do que possam competir com as imagens de torcedores quebrando tudo que veem pela frente por causa de uma derrota. Ainda h� centenas de passos a serem dados no Brasil para um m�nimo de civilidade no nosso esp�rito esportivo.
Por isso, � t�o fascinante ver o que est� acontecendo no bilion�rio mundo esportivo dos EUA. O piv� Jason Collins, 34, da NBA, disse que � gay e foi elogiado por Obama, Bill Clinton e por Kobe Bryant, entre dezenas de grandes nomes da pol�tica, do esporte e da cultura. Virou �dolo instant�neo, apesar de estar longe de ser um jogador famoso. � o primeiro atleta ainda em atividade a sair do arm�rio em uma das quatro grandes ligas americanas.
H� um m�s, o t�cnico de basquete da universidade Rutgers foi demitido do cargo ap�s uma c�mera indiscreta registrar como ele chamava de "viado" os jogadores do seu time que erravam algum passe. "Tem que jogar como homem", gritava. Sua demiss�o foi exemplar, mas ainda � novidade.
N�o s�o casos isolados. A Liga Nacional de H�quei lan�ou uma campanha contra a homofobia entre times e atletas, a Liga Nacional de Futebol Americano prepara a sua pr�pria e dois de seus jogadores mais famosos, os heterossexuais Chris Kluwe e Brendon Ayanbadejo, tornaram-se porta-vozes de campanhas contra a discrimina��o. Um jogador de futebol, o soccer deles, que j� at� vestiu a camisa da sele��o americana, tamb�m se revelou gay. Aos 25 anos, quem sabe ele n�o jogar� no Brasil no ano que vem representando seu pa�s?
As mulheres gays conseguiram lutar --e sair do arm�rio-- muito antes. Como bem disse a tenista Martina Navratilova, "o esporte estava atrasado demais". Pioneira, ela declarou sua atra��o por mulheres no long�nquo 1981 e mulheres fortes como ela se tornaram presen�a constante em diversos esportes. Jogadoras de basquete e v�lei nos EUA t�m sa�do do arm�rio sem causar tanto barulho --parece que elas j� conquistaram a "normalidade".
O esporte parecia ser o �ltimo basti�o da homofobia, onde homens gays jamais seriam aceitos --acusados de efeminados, eles n�o seriam fortes o suficiente para jogar ou distrairiam os demais jogadores no vesti�rio.
Mas tanto o Ex�rcito americano, quanto o brit�nico ou o holand�s aceitam gays em suas tropas e nada mudou nos quart�is e nas campanhas militares no exterior, nem houve deser��o em massa. Apenas alguns milhares de militares puderam ser o que s�o, sem constrangimento ou repress�o.
At� mesmo na pol�tica, diversos gays venceram o desafio das urnas e da aceita��o popular, do primeiro-ministro belga aos prefeitos de Paris, Berlim e Portland, a v�rios deputados americanos e a senadora Tammy Baldwin. No Brasil, Jean Wyllys conseguiu converter a popularidade do BBB em for�a pol�tica, tendo que enfrentar batalhas com alguns dos setores mais atrasados da sociedade brasileira.
Nos EUA, depois de uma fase ultraconservadora nos anos 90 e in�cio dos 2000, o pa�s voltou � vanguarda. Ainda falta saber se a carreira de Collins, j� considerado veterano, sofrer� obst�culos por ser gay abertamente --ou se at� ganhar� alguns vantajosos contratos publicit�rios. Mas as primeiras rea��es foram de apoio quase un�nime dentro e fora do esporte.
As �nicas vozes contra Collins sa�ram dos grot�es americanos. Igualzinho ao que j� acontece em escala mundial --aceita��o e respeito aos gays nos pa�ses escandinavos, na Europa Ocidental, no Canad�, Argentina e Uruguai, mas repress�o e viol�ncia nos rinc�es mais miser�veis e atrasados do planeta. A divis�o � clara e invariavelmente tem a ver com o n�vel educativo de simpatizantes ou detratores.
Por isso mesmo, no Brasil, mesmo nos lugares mais desenvolvidos, n�o consigo imaginar ainda um gay de cabe�a erguida jogando numa boa em um est�dio de S�o Paulo ou Rio. Nem entre os colegas, nem com a torcida. Em termos de educa��o, ainda temos muita bola para jogar.
- O v�deo acima mostra o jogador de futebol americano Chris Kluwe falando sobre sua campanha contra a homofobia
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