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raul juste lores

 

12/12/2012 - 03h00

Niemeyer e Gaud� em S�o Paulo

O cinema no t�rreo do edif�cio Copan est� vazio, depois do fechamento da igreja evang�lica que ali se instalou.

O Cine Bar�o, no subsolo da Galeria Calif�rnia, outro edif�cio de Niemeyer no Centro de S�o Paulo, continua fechado. Foi um bingo em sua �ltima encarna��o.

Ao lado do bingo fechado, est� o maior mural abstrato j� feito por Candido Portinari. Da �ltima vez que estive ali, oper�rios tiveram a sensibilidade de empilhar os sacos de cimento na frente da assinatura de Portinari, refor�ando o anonimato do mural e do pr�prio pr�dio.

Com a morte de Niemeyer, certamente alguns pol�ticos v�o querer ficar construindo obras p�stumas, sem sabermos se apenas est�o pegando sua assinatura emprestada. A melhor maneira de homenage�-lo seria recuperar alguns dos sofridos pr�dios que ele nos deixou.

Antes que algu�m sugira mais outros dez centros culturais no Centro de S�o Paulo (como se quis�ssemos pagar mais impostos para manter outros centros culturais no j� privilegiado Centr�o), um bom exemplo � o Bar da Dona On�a.

Seus donos tiveram a sacada de fazer um belo restaurante de comida brasileira no t�rreo do Copan. Vive lotado. E, de sobremesa, as pessoas ainda ganham um novo �ngulo do pr�dio.

Os "niemeyers" subutilizados no Centro de S�o Paulo precisam de empres�rios assim. S�o Paulo poderia fazer como Barcelona e permitir que empresas trocassem o patroc�nio � reforma da fachada do Copan pelo direito de estampar suas logomarcas na lona de prote��o.

Patrocinador e patrocinado sairiam ganhando, sem comprometer dinheiro p�blico em um edif�cio privado. O Copan � um monumento da cidade e sua fachada deteriorada diz muito sobre n�s.

Ao mostrar o gigantesco edif�cio a um arquiteto barcelon�s em visita a S�o Paulo, al�m de se espantar com a leveza da constru��o e com seu mau estado, ele me perguntou: "voc�s n�o t�m um guia das obras do Niemeyer em S�o Paulo? Deveriam".

Niemeyer � o nosso Gaud�. Esteticamente n�o poderiam ser mais diferentes, ainda que os dois criadores colocassem a beleza em primeiro lugar. Ambos criaram a assinatura visual da modernidade em seus pa�ses.

Gaud� foi esquecido por d�cadas. Da morte, ap�s ser atropelado por um bonde, em 1926, a ser "redescoberto", no final dos anos 70, passaram-se 50 anos. Nos anos 60 e 70, seus pr�dios estavam escuros pela polui��o e o descaso.

Niemeyer foi t�o longevo que assistiu ao sucesso e ao ostracismo em vida em diferentes fases. Mas, agora, como na �ltima d�cada, o momento � de redescobrimento e valoriza��o.

N�o vai demorar para termos tamb�m centenas de turistas europeus e japoneses fotografando Niemeyer por aqui. D� para preservar sua mem�ria e ainda criar alguns empregos.

Em Barcelona, eventos anuais abrem todos os pr�dios do Gaud� e do art noveau catal�o (de arquitetos como Domenech i Montaner e Puig i Cadafalch), mesmo os privados.

Que sonho seria que Niemeyer ganhasse seu pr�prio roteiro em S�o Paulo. O topo do edif�cio Tri�ngulo, onde ainda h� andares vazios, tem uma vista incr�vel do Centro e da Pra�a da S�. O Montreal tem um mural do Di Cavalcanti que praticamente ocupa o t�rreo inteiro. Gostaria de poder visitar o Eiffel. Se cobrassem entrada para visitar o topo do Copan, muita gente pagaria.

Em poucos quarteir�es ao redor da Ipiranga com S�o Luiz, S�o Paulo tem obras de Niemeyer, Rino Levi, Warchavchik, Franz Heep e Oswaldo Bratke. Demorou para termos uma rota modernista ali.

At� l�, mesmo o Memorial da Am�rica Latina, obra menos inspirada do arquiteto, poderia ganhar um refor�o no or�amento e ser o grande centro da latinidade paulistana. Enorme e com metr� na porta, seria um lugar ainda mais frequentado e com identidade mais definida. Niemeyer e S�o Paulo merecem.

*

No fim de semana, publiquei uma reportagem aqui na Folha sobre a parceria entre prefeituras americanas e a ong Code for America para desenvolver aplicativos espertos. A um toque de celular, voc� pode interagir com o transporte, a educa��o e o crescimento da sua cidade. Para ler, clicar aqui.

raul juste lores

O jornalista Raul Juste Lores � correspondente da Folha em Washington,
ex-correspondente em Nova York, Pequim e Buenos Aires e ex-editor
do caderno 'Mercado', e bolsista da funda��o Eisenhower Fellowships. Escreve �s quartas-feiras no site. Siga: @rauljustelores

 

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