Até agora o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) está cumprindo o que prometeu durante a campanha –pelo menos na economia. Vem perguntando tudo ao “posto Ipiranga”.
O economista Paulo Guedes não apenas comandará um superministério, turbinado pelas pastas da Fazenda, Indústria, Planejamento e parte do Trabalho. Ele também vem selecionando todos os nomes relevantes da área.
Se as indicações recentes se confirmarem, Guedes terá na Petrobras e no Banco do Brasil amigos de longa data –os economistas Roberto Castello Branco e Rubens Novaes. Na Caixa, emplacou Pedro Guimarães, do banco Brasil Plural.
Ele também apontou Roberto Campos Neto (ex-diretor do Santander) para o Banco Central, Joaquim Levy (ex-ministro da Fazenda) para o BNDES, e manteve Mansueto Almeida (especialista em contas públicas) no Tesouro Nacional.
Com essas escolhas, Guedes faz jus a fama que possui no mercado de montar bons times, pois os nomes acima têm excelente reputação. A única ressalva é que dificilmente algum deles conseguirá contradizê-lo caso seja necessário.
O poder do economista é ainda mais impressionante quando consideramos que ele vai filtrar boa parte dos decisões que chegarão ao futuro presidente, já que Bolsonaro reconheceu uma e outra vez que não entende nada de economia.
Ou melhor: já está filtrando, pois não são poucos os que reclamam que não tem acesso ao mandatário eleito. Os comentários entre os empresários e os políticos mais experimentados de Brasília é que o “bolsonarismo” parece uma seita restrita a poucos.
Bolsonaro também parece ter abdicado do papel de “árbitro” típico do presidencialismo de coalizão no Brasil. Em governos anteriores, o presidente funcionava como o fiel da balança entre seus ministros, que representavam diferentes fatias da sociedade.
Agora, com tanto poder nas mãos de Guedes, a balança praticamente pende para um lado só.
Uma vez que tenha o time pronto, os desafios do superministro estarão só começando. Ele terá que formular um plano de governo o quanto antes –algo que até agora não está claro, como já discutimos na semana passada neste espaço.
Em seguida, vai precisar negociar medidas impopulares com o Congresso, como a reforma da Previdência.
E, nessa área, o “posto Ipiranga” não tem experiência nem tampouco demonstra aptidão. Vai, portanto, precisar de ajuda. Aqui entra a maior dúvida sobre este governo. O presidente e o restante de sua entourage serão capazes de ajudar Guedes na articulação política necessária para fazer as reformas?
As escolhas dos presidentes da Câmara e do Senado prometem ser um excelente teste.
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