O Brasil chegou ao espantoso número de 13 técnicos estrangeiros na Série A. É recorde aqui e nas ligas do Ocidente. Mais do que na Inglaterra, onde nenhum inglês conduz um time ao título desde Howard Wilkinson, pelo Leeds, em 1992. A Premier League tem 12 de seus 20 clubes dirigidos por treinadores nascidos fora do Reino Unido. Entre os locais, dois galeses, um escocês e cinco ingleses.
Estrangeiro lá é quem não é britânico: 12.
Aqui são 13.
Não há problema nenhum com a entrada dos sete portugueses, cinco argentinos e um uruguaio no mercado do Brasil. Ao contrário, o campeonato melhorou. Há mais diversidade e mais variedade tática. Não significa que os brasileiros sejam piores, ou que precisem ser piores para sempre. Ou, ainda, que não se possa produzir conhecimento aqui dentro.
Esporte é difundir, espalhar cultura.
Não serve trazer o campeão olímpico Ruben Magnano para o basquete do Brasil e, 13 anos depois, isso não ter produzido nenhum benefício para o esporte do país. Hoje, o basquete brasileiro não tem craque, não tem técnico e não tem time.
Nada contra o técnico do seu time, ou da seleção, vir de fora. Desde que exista trabalho, para que os nativos evoluam.
Reclamávamos da rotatividade de brasileiros por vários clubes. Já há o mesmo fenômeno com Diego Aguirre, Antonio Oliveira e Jorge Sampaoli.
Técnicos brasileiros da nova geração não se firmam porque os clubes contratam e demitem com a mesma rapidez com que se troca de roupa íntima. A frase foi dita pelo alemão Jurgen Klopp, na Inglaterra, sobre as trocas constantes no Brasileiro.
O Santos acaba de demitir Paulo Turra depois de sete partidas. Nos últimos 30 meses, teve oito treinadores e dois interinos, que dirigiram o time mais vezes do que dois dos efetivos. O Corinthians se tornou o primeiro clube da história a ter quatro técnicos diferentes nas quatro primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.
Acostumamo-nos a chamar esse fenômeno de "cultura do futebol brasileiro." Deveria chamar-se analfabetismo. Não é proibido mudar de técnico. Precisa ser feito com critério e compreensão de que uma equipe só se forma com paciência e continuidade. Time bom consagra jogador ruim. Time ruim enterra jogador bom. Se o trabalho crescer, o perna de pau que você detesta pode vir a ser admirado.
Aqui, o que importa é trocar grife por grife. Técnico de grande nome por outro nome imponente. O conselheiro pressiona, o torcedor protesta, o repórter precisa de notícia e, então, o técnico cai. E lá se vão mais alguns meses para mudar sistema de marcação, de cobertura, saída de jogo...
Quando Abel Ferreira chegou ao Palmeiras, dizia-se que jogava mal. Contra o América, na semifinal da Copa do Brasil de 2020, por exemplo. Depois se disse que a final vencida contra o Santos foi feia. Mais tarde, que só jogava em contra-ataques. Depois, que venceu pela cabeça fria e coração quente.
Telê quase caiu no São Paulo três meses antes de vencer a Libertadores. Luxemburgo perdeu os cinco primeiros jogos oficiais quando chegou ao Corinthians em 1998. Foi campeão brasileiro no fim daquele ano.
A legislação trabalhista prevê períodos de 90 dias de experiência. No Campeonato Brasileiro, 9 dos 20 treinadores estão há três meses ou menos no cargo. Dizem que o profissionalismo começou a vigorar no futebol brasileiro em 1933, depois da cisão entre os que lutavam pelo amadorismo.
O profissionalismo foi introduzido e os defensores do amadorismo vencem todos os dias.
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