O jornalista espanhol Diego Torres, do diário El País e famoso pelo livro "A Guerra de José Mourinho", sobre seus dias turbulentos no Real Madrid, tinha uma teoria peculiar sobre a final da Liga dos Campeões. Três horas antes do apito inicial, Torres afirmou: "Guardiola está com medo".
Na véspera, questionado se o Manchester City tinha obrigação e a Internazionale, um sonho, o técnico catalão respondeu: "Eu também estou sonhando com o troféu".
Havia uma razão hipotética para certa tensão extra no olhar de Guardiola. Seu retrospecto contra a Internazionale, na semifinal de 2010, e contra técnicos italianos, trazia à lembrança eliminações como contra o Chelsea, de Roberto Di Matteo, ou duas vezes contra o Real Madrid, de Carlo Ancelotti, que derrubou o Bayern, em 2014, e o City, em 2022.
A cada conversa nas ruas, o receio estava do outro lado: "Il City me fa paura" ("o City nos apavora"), disse um torcedor da Inter, chamado Vittorio, com a camisa 32 do lateral Dimarco às costas. Campeão mundial de 1982 e italiano pela Internazionale em 1989, o ex-lateral Giuseppe Bergomi definia o jogo de outra maneira: "O City é favorito, e a Inter tem de se comportar com realismo, sem vontade de parecer uma vítima, mas com ambição de vencer".
O primeiro tempo mostrou tudo isso. O City foi uma equipe tensa. Melhor do que sua rival, abaixo de seu potencial. Perdeu De Bruyne por lesão, aos 35 minutos. A entrada de Foden mudou o comportamento de Gündogan, confundiu a marcação do volante interista Brozovic. Mesmo assim, os minutos finais mostraram só um chute de fora da área de Akanji.
Haaland só chutou uma vez, em cima do goleiro Onana. O plano do técnico italiano, Simone Inzaghi, era cercar Haaland com seus três zagueiros. Repetir o que José Mourinho fez para paralisar Arjen Robben, na final de Madri, 2010, vencida pela Internazionale.
A primeira imagem do telão, no retorno ao segundo tempo, foi Guardiola tomando um gole de água. Aos cinco minutos, andava de um lado a outro da área técnica. De repente, virou-se para a silenciosa torcida do Manchester City e pediu que se levantassem. Por minutos, gritaram. As câmeras não mostraram.
Guardiola estava, sim, tenso. Sonhava com seu terceiro título, sabia que o mundo depositava sobre ele toda a certeza do troféu, o que lhe dava a obrigação.
A diferença entre as torcidas do City, composta por turistas de todo o mundo, e da Inter, só por italianos, mostrou-se quando Lukaku saiu do aquecimento. Uma explosão de gritos. Simone Inzaghi não precisava pedir, os italianos cantavam todo o tempo.
O City tem mais time, estava nervoso, e sua arquibancada, em silêncio. Lautaro Martínez quase marcou, e os ingleses revidaram no contra-ataque. Bernardo Silva dominou mal, aos 15 do segundo tempo, e evidenciou a falta que De Bruyne faz.
Não se imaginava que o City demorasse tanto para abrir o marcador, o que aconteceu aos 23 minutos do segundo tempo, depois de jogada de Bernardo Silva, rebatida pela defesa, que sobrou na entrada da área para o volante Rodri finalizar com a calma que parecia faltar a Guardiola.
Cabeça erguida, olhar atento, mira calibrada no canto direito.
Rodri é uma espécie de Guardiola dos velhos tempos, quando o atual treinador era um brilhante volante, capaz de armar o time desde o primeiro passe, na defesa, como lhe ensinou Johan Cruyff.
Rodri foi a calma que nem a garrafinha d’água deu a Guardiola.
A final de Istambul não dá a impressão da superioridade que o City demonstrou durante toda a temporada. Com o ataque mais positivo, a defesa menos vazada, o artilheiro Haaland, o líder de assistências De Bruyne.
Tudo isso e os 4 a 0 sobre o Real Madrid nas semifinais servem muito mais para mostrar que Guardiola montou e dirige o melhor time do mundo.
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