A cena tática do Brasil da semana passada foi o discurso de Jorge Sampaoli no gramado do Ninho do Urubu, orientando o elenco do Flamengo: "O respeito pela bola é sempre. Todo o tempo. Uma bola perdida é igual a um problema. Não se pode perder nunca a bola."
Faz pensar. Sampaoli é um gênio tático, nem sempre um vencedor de troféus. No Brasil, foi apenas campeão mineiro, títulos nacionais não possui desde a Universidad de Chile de 2012. Ganhou a Copa América pelo Chile, em 2015.
Os títulos não estão em debate aqui. O estilo, sim.
A pergunta óbvia é por que razão o Brasil perdeu o gosto pela bola. Um estudo aprofundado indica que os times daqui sempre tiveram prazer pelo ataque, não necessariamente pela posse de bola.
A menos amada seleção campeã mundial, a de 1994, era um primor de posse de bola. Parreira tinha ojeriza pela pressão no campo de ataque e é isto o que diferencia seu estilo do jogo mais moderno de Sampaoli.
Pode-se chamar o jogo de Parreira de chato, não de retranqueiro. Fazia questão da bola, até mais do que Zagallo, em 1970, ou Felipão, em 2002.
O argentino é obcecado pela bola. Por tê-la e, por consequência, por recuperá-la. É pressão na saída dos adversários e inteligência para circulá-la em projeção ao gol. É por esse jogo moderno que nos encantamos, quando dizemos que o jogo da Liga dos Campeões é "outro esporte."
É, mas como todo clichê, ficou chata a repetição. A questão é como fazer o jogo daqui se aproximar de lá. A variedade de treinadores e estratégias ajudará nessa missão.
Na manhã de domingo (23), o Flamengo teve 63% de posse de bola e perdeu do Internacional. Mano Menezes é a antítese de Sampaoli. Pragmático, treina o time da Série A com o menor número de derrotas no Brasil neste ano. Só caiu no Grenal. Na terça-feira (18), Fernando Diniz alcançou sua 40ª vitória nesta passagem pelo Fluminense em 63 jogos – tem 13 derrotas – e Mano chegou ao 30º triunfo em 60 partidas –só seis perdidas.
Um é o oposto do outro. Diniz acredita em vencer e na troca de passes. O Fluminense é o time do momento, domina seus rivais com bola no pé e mais passes laterais do que Sampaoli gostaria.
É injusto dizer que Diniz e Sampaoli jogam sempre do mesmo jeito. Querem sempre a bola, as estratégias também se transformam. O Flamengo teve dois zagueiros contra o Inter e três contra o Ñublense, por saber que o Internacional só pressionaria com um atacante fixo.
Mudou.
O Palmeiras inverteu o eixo da saída de jogo contra o Vasco. Com Piquerez voltando de lesão e Marcos Rocha poupado, o lateral uruguaio liberou Garcia pela direita e deu origem às jogadas junto com Gustavo Gómez e Murilo.
Sem ser obcecado pela bola, Abel fez seu time ter 61% do tempo trocando passes e levou 2 x 0. Aumentou para 68% e empatou a partida.
Abel é diferente de Sampaoli. Julga que contra adversários mais fortes é importante ter estratégias diversas. Os últimos dois campeões brasileiros, Abel pelo Palmeiras e Cuca pelo Atlético, agiram mais desta maneira do que à moda Sampaoli e Fernando Diniz.
Ninguém ganha título nacional em abril, neste hemisfério sul. Neste momento, está bom mesmo é de ver o Fluminense.
CUCA EM JOGO
O que o novo técnico do Corinthians pretende é rejuvenescer seu time. Não há problema em ter jogadores acima de 31 anos. Setores inteiros, sim. O meio-de-campo precisa ter mais vitalidade, daí a tentativa com Du Queiroz e Vera juntos. Ele vai recuperar Maycon.
O LOSANGO
Dorival Júnior repetiu, na estreia pelo São Paulo, o losango de meio de campo que usava no Flamengo. Mas não tem De Arrascaeta. Eis a diferença. O São Paulo não teve grande atuação e goleiro Rafael foi destaque. Com jogadores diferentes, pode ser bom ter sistema distinto.
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