Ramon Menezes montou um time agressivo contra o Marrocos. Marcou pressão na saída adversária e fez oito de suas 17 recuperações de bola no campo de ataque. Criou oportunidades, teve gol anulado de Vinicius Júnior, escalado como atacante, ao lado de Rodrygo. "Eles têm transição muito rápida, principalmente pelo lado direito", explicou Ramon.
Em outras palavras, o treinador escalou Paquetá para marcar Hakimi e liberou Vinicius para criar.
Um minuto após o gol anulado de Vini, o Marrocos fez 1 x 0. Erro de Émerson Royal. Até ali, o Brasil jogava bem.
Oito minutos após o empate de Casemiro, Sabiri fez 2 x 1. Falha de Militão.
Ramon Menezes não é responsável pela derrota para o Marrocos.
A CBF é.
Desde dezembro, escuta-se que a data Fifa de março é sem sentido e que, por isso, o Brasil poderia ter um treinador interino.
Acontece que, pela primeira vez na história, a seleção perdeu duas vezes seguidas contra países da África.
No Qatar, sofreu a primeira derrota em Copas para um time que não fosse sul-americano nem europeu —0 x 1 Camarões.
Agora, para Marrocos.
Não é correto expor a marca da seleção brasileira. É cada vez mais evidente a espera de Ednaldo Rodrigues por Carlo Ancelotti. Não há nenhuma certeza de que o italiano aceite dirigir o Brasil. A próxima data Fifa é em junho, poucos dias após a final da Liga dos Campeões.
Improvável que o técnico do Real Madrid esteja no banco de reservas, especialmente se seu time chegar a mais uma final europeia. E aí? Vai se improvisar outra vez?
O Mundial sub-20 termina em 11 de junho. Se a seleção ganhar seu sexto título, pode até ser premiado outra vez. Seu prestígio estará perto de zero se o Brasil for eliminado precocemente.
Pecado mortal é tudo se resumir à opinião pública. Muita gente adorou a seleção de jogadores que atuam no Brasil, misturada a campeões sul-americanos de juniores, com poucos veteranos e sem Neymar, por lesão.
Culto ao improviso.
A nova seleção precisa de um treinador experiente, preparado para a pressão das competições, disposto a recuperar a imagem da seleção no mundo. É importante a transição da geração de Neymar para a de Rodrygo e Vinicius Júnior. Não deve mais haver rupturas, como quando Ronaldinho Gaúcho desistiu, Kaká teve lesão e a passagem para a geração Neymar se deu sem um parceiro experiente no ataque.
Foi diferente quando o bastão passou de Romário a Ronaldo. Muito menos traumas.
Tudo neste momento lembra a saída da Copa de 1990, quando se pretendia o rompimento com o passado. Não há como olhar para o futuro sem carregar os erros recentes. O Brasil vem do 6º lugar na Rússia, em 2018, e 7º no Qatar, em 2022. São as piores classificações depois do 9º, em 1990, e do 11º, em 1966.
Se Ancelotti vier, será ótimo. A CBF não está preparada para a resposta negativa. Em conversas com jogadores que treina e já treinou, o italiano disse ter gostado muito da sondagem da seleção, adora a ideia, mas só sairá do Real Madrid se for demitido. "Io sono anzianotto", disse em entrevista à rádio RAI, afirmando que está quase ancião.
Quem parece velhinho é o futebol do Brasil. Não em campo, mas fora dele, com decisões para agradar a opinião pública e que expõem a seleção ao improviso.
SOLITÁRIO
São cada vez mais frequentes os comentários de que Ednaldo Rodrigues toma decisões isoladamente. A saída de Fernando Sarney do cargo que ocupava junto à Fifa é um destes sinais. Não que precise das velhas raposas, mas não dá para gerir um futebol tão gigante com uma única cabeça.
A MELHOR
O exemplo a seguir no Campeonato Brasileiro é o inglês. Entre as seleções, a da França. Esqueça a Argentina, de lindo episódio no Qatar que a levou ao título. A mais sólida estrutura de formação e consolidação de um time nacional está em Paris. A goleada sobre a Holanda mostrou outra vez a melhor seleção do planeta.
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