Guardiola é um técnico tão especial que torna cada vez mais difícil entender que seu sistema tático já mudou. Quando você percebe, mudou de novo. A partida contra o Chelsea, na quinta-feira (5) evidenciou como os mais diferentes jornais do mundo não compreendem, ou pelo menos não conseguem transmitir, que Pep voltou ao WM de maneira definitiva. Seu ataque é com três zagueiros, dois médios e cinco atacantes. Sempre.
Na vitória sobre o Chelsea, em Londres, usou Walker como zagueiro pela direita, o holandês Aké pela esquerda e Stones como líbero. Rodri fazia o pêndulo defensivo, com Bernardo Silva a seu lado. No ataque, João Cancelo pela direita, Foden à esquerda, De Bruyne, Haaland e Gundogan.
Cinco posicionados como atacantes.
Nenhum jornal da Europa percebeu.
O L’Equipe deu a escalação, em sua edição do dia seguinte, num 4-2-3-1, com João Cancelo de lateral esquerdo. O português jogou aberto na direita. La Gazzetta dello Sport montou o City no mesmo sistema tático, com João Cancelo de lateral-direito e Rodri de quarto-zagueiro.
Não, não foi assim.
Defendendo, o City fez duas linhas de quatro.
Não é importante você perceber como o time de Guardiola joga. Para o treinador catalão, melhor que ninguém entenda. Fato é que ele volta ao WM, o sistema criado pelo escocês Herbert Chapman, depois da mudança da lei de impedimento, em 1925, com três defensores, dois médios, dois meias e três atacantes. Na prática, um 3-2-5. É o que Guardiola reinventa.
Como diz seu biógrafo, Martí Perarnau, o maior reinventor de ideias do futebol.
É sempre impreciso definir quando e como nasceu – ou renasceu – um sistema tático. O Santos, de Pelé, é escalado com três zagueiros, mas jogava no 4-2-4. Recita-se Gilmar, Lima, Mauro e Dalvo; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. "Jogávamos no 4-2-4", diz Pepe. Significa que a imprensa não percebeu o que o campo mostrou e o depoimento de Pepe avaliza: Gilmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
Na prática, era assim. Os jornais, até hoje, não conseguem mostrar isto.
Paulo César Carpegiani já disse a este colunista que escalou o Flamengo, em 1981, num 4-2-3-1, quando ninguém ousava desenhar este sistema. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico foram, às vezes, Raul, Nei Dias, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade e Leandro; Lico, Zico e Adílio; Nunes.
Pep já disse que será difícil ganhar o tricampeonato inglês, porque o Arsenal dá sinais de poder alcançar cem pontos na temporada. Em 17 partidas, tem 44 pontos e precisará manter o nível, para alcançar a pontuação centenária que só Guardiola alcançou, em 2018, pelo City.
Mikel Arteta, atual treinador do Arsenal, foi assistente de Guardiola no Manchester City e usa o mesmo sistema, sem o mesmo brilho, nem jogadores tão talentosos. Quando foi campeão invicto, em 2004, o Arsenal chegou aos 90. Se fizer só isso, o City atropela. Ninguém, no mundo, é tão criativo quanto Guardiola.
Se não ganhar o Campeonato Inglês, mais um motivo para pensar que estará na decisão da Liga dos Campeões, dia 10 de junho, em Istambul.
Inútil
Difícil entender por que o Corinthians fez questão de divulgar sua proposta por Cristiano Ronaldo. Só para mostrar que pode ter uma ambição que o depoimento de Vítor Pereira faz pensar que não pode ter. Está claro que o técnico português julga ter mais chance de ser campeão na Gávea do que no Parque São Jorge.
Semana decisiva
Esta semana será decisiva, para a CBF procurar seu novo técnico. Por ora, houve procuras e recusas públicas, sem informações de quem foi sondado e rejeitou vir ao Brasil. Você já sabe que Guardiola, Ancelotti e Klopp, os melhores técnicos do mundo, não trabalharão na Barra da Tijuca, no ciclo da próxima Copa.
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