Dos 13 maiores clubes do Brasil, o Palmeiras é o único sem contratação antes do início da temporada. A estratégia é arriscada, mas embasada.
O clube entende ter um dos melhores elencos do país, suficiente para brigar por todos os títulos com os retornos de lesões de Raphael Veiga e Jaílson, sem Scarpa e Danilo.
Não é fácil encontrar exemplos de times vencedores por duas temporadas seguidas, sem contratações entre elas.
O Flamengo de 1982 é um desses raros casos.
Campeão mundial em dezembro de 1981, o rubro-negro ganhou o Brasileiro seguinte escalando apenas 19 jogadores, todos disponíveis na campanha do segundo semestre anterior.
Outra lembrança é a do Real Madrid, incomum vencedor da Liga dos Campeões consecutivamente, com a mesma escalação em duas finais seguidas: Navas, Carvajal, Varane, Sergio Ramos e Marcelo; Casemiro, Modric e Kroos; Isco, Benzema e Cristiano Ronaldo. Venceram a Juventus e o Liverpool, nas finalíssimas de 2017 e 2018 –Pepe e Bale eram titulares em 2016.
Entre as duas conquistas, o Real tirou Theo Hernández, do Alavés, e Ceballos, do Betis. Ficaram só sentados no banco.
O Palmeiras tem experiência semelhante entre 1972/1973. A escalação que virou poesia nas bocas palmeirenses tinha Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca, Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Nas decisões, Madurga jogou no lugar de César em 1972 e Ronaldo na vaga de Edu contra o São Paulo, em 1973.
Só que o presidente Paschoal Giuliano contratou Manfrini, Mílton e Careca na virada do ano.
O futebol não está acostumado a estratégias assim. Tem de mexer o doce, diz o ditado da região central do Brasil. A questão de movimentar o ambiente não significa, necessariamente, dispensar jogadores e trazer outros de volta. Necessário é tirar o elenco da zona de conforto e isso pode ser com treinos variados e cobranças diárias.
O Corinthians manteve a base, contratou Yuri Alberto em definitivo e trocou o lateral Piton por Matheus Bidu. O São Paulo tem seis novidades, os atacantes Wellington Rato, Pedrinho e Marcos Paulo, o goleiro Rafael, o zagueiro argentino Alan Franco, o meia equatoriano Méndez.
O Santos aposta no bom técnico Odair Hellmann, contratou o zagueiro Messias e o atacante Steven Mendoza, do Ceará, o lateral João Lucas, do Cuiabá, o goleiro Vladimir, do Avaí —todos os clubes de origem dos reforços foram rebaixados. Hellmann pediu o meia Dodi, com quem trabalhou no Fluminense.
O Atlético acertou em cheio ao trazer o treinador argentino Eduardo Coudet. Pode esbarrar na dificuldade financeira de um clube que inaugurará seu novo estádio, tem R$ 1,6 bilhão de dívidas e voltou a ter atraso de salários.
O Flamengo trouxe só o meia Gérson e terá o goleiro Rossi no meio do ano.
Quem mudou mais foi quem trabalhou pior no ano passado.
A lição de meu avô, Alexandrino, avaliza os raros reforços de Palmeiras e Flamengo. Ao passar pela sala e ver o neto devorar os jornais, num verão em que Careca negociou com o Palmeiras e fechou com o São Paulo e o Santos contratou Serginho Chulapa e Paulo Isidoro, vovô dizia: "Que é que tu estás a procurar aí, pá? Daqui a dois meses vão estar todos na mesma".
Com o goleiro Leão no lugar de Solito, o Corinthians da Democracia foi bicampeão paulista e o Flamengo, de Zico, ganhou o Brasileiro pelo segundo ano seguido.
Quase sem reforços.
O desafio de Leila Pereira é mostrar que meu velho avô continua certo até hoje.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.