A CBF está em recesso e só voltará a ter expediente normal no dia 12 de janeiro. É a exata noção de que o retorno do Qatar nos devolveu à rotina. Os desejos de feliz Natal e próspero Ano-Novo reforçam essa ideia. Monotonia é tudo o que o futebol do Brasil não pode ter neste momento.
Mbappé voltou aos treinos três dias depois da derrota para a Argentina, o PSG apressa a renovação de contrato de Messi pensando na Champions League, o Campeonato Inglês retoma a vida normal na segunda-feira (26), e a Apple TV apresenta nesta semana a série "SuperLiga: A Guerra pelo Futebol" –história dos clubes que tentaram desafiar a Uefa e, por consequência, produziram uma grande reforma na Liga dos Campeões.
Os movimentos continuam sendo feitos, para tornar o futebol mais popular e gerar mais dinheiro, na Europa.
E o Brasil está parado.
O primeiro desafio do presidente da CBF, no retorno da Bahia ao Rio de Janeiro, será escolher o novo técnico da seleção. Já se sabe que Josep Guardiola não será. Ronaldo Fenômeno conversou com Pere Guardiola, irmão e agente do melhor treinador do mundo. Ele ficará no Manchester City até 2025.
Nesta semana, Pep admitiu que sua renovação de contrato tem a ver com o desafio de ganhar a Liga dos Campeões, depois de 12 temporadas de seca.
Carlo Ancelotti deu entrevista à rádio nacional da Itália afirmando que não sairá do Real Madrid antes de 2024, a não ser que seja demitido. Tudo gira em torno dos clubes europeus, e será assim nos próximos três anos e meio, até a Copa do Mundo da América do Norte.
O segundo desafio brasileiro é colocar de pé a Liga, única maneira de construir um campeonato na América do Sul comparável aos de Alemanha, Itália e França.
Os ingleses e espanhóis seguirão um degrau acima.
Não dá mais para se iludir com o nível da Libertadores. A Copa teve só gol de um jogador de time sul-americano, De Arrascaeta, e três de jogadores do Campeonato Croata, Orsic, Livaja e Bruno Petkovic –lembra deste?
A escolha do novo técnico não é fácil. Mesmo sabendo que a Argentina fracassou com Jorge Sampaoli, com prestígio na Europa, e conquistou o mundo com Lionel Scaloni, em sua primeira experiência, não dá para colocar qualquer um.
Há três anos, Scaloni decidiu acabar com a bagunça e a política dentro da seleção argentina. Viajavam mais de cem convidados nos aviões, os jogadores se incomodavam, nada prosperava. Scaloni ganhou carta branca para limitar as viagens aos atletas e à comissão técnica. Telefonou para Messi, explicou seus planos, disse que precisava de sua presença.
"Se é assim, eu topo", disse o maior craque do século 21.
Em três anos, a Argentina acabou com seu mais longo jejum de troféus, conquistou a Copa América e a Copa do Mundo.
Internamente, o Brasil está mais perto de se aproximar dos polos de conhecimento de futebol da Europa do que os argentinos. Os clubes do novo país campeão mundial são mais bagunçados e têm menos dinheiro.
A consolidação da Liga, se for formatada do ponto de vista empresarial, não político, se não tiver picuinhas de dinheiro de TV, poderá iniciar um novo período. Se o processo começar pelos clubes, o alicerce, e subir ao topo da pirâmide, a seleção.
O Brasil estava a três minutos da semifinal.
Hoje, está a três minutos de iniciar a transformação.
Está muito perto para ficarmos tão longe.
A política está para o futebol brasileiro como o contra-ataque da Croácia esteve para a Copa do Mundo.
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