O noticiário dá conta de que há risco de assaltos para jornalistas que trabalham em torno ao estádio Monumental de Guayaquil, e essa é uma das críticas para a realização da final única da Libertadores, no Equador. A contabilidade indica 200 homicídios nos últimos 60 dias no país.
Merece debate se a final deve voltar a ter dois jogos, mas o argumento precisa ser outro. O estado do Rio de Janeiro registrou o menor índice de homicídios em 31 anos. Foram 1994 em oito meses. Se os equatorianos sofrem com cem assassinatos a cada 30 dias, os fluminenses têm 250 no mesmo período.
Por vezes, nós brasileiros julgamos estar em Munique. Final no Maracanã e no Morumbi, na República das Milícias ou em Paraisópolis, isso pode.
Em Guayaquil, não pode.
Apesar do argumento frágil, é mesmo de se ponderar que a festa das finais da Copa do Brasil, ida na Neo Química Arena, volta no Maracanã, foi muito mais bela do que provavelmente se verá no estádio Monumental. A Conmebol projeta 40 mil espectadores, e pode haver bem menos do que isso.
Não é fácil deslocar-se pela América do Sul, diferentemente do que acontece na Europa da Liga dos Campeões. Há diferenças na quantidade e nos preços dos voos, também no poder aquisitivo da população.
A economia não está bombando.
Tanto quanto quem circula em torno do palco da final, Flamengo e Athletico precisam de atenção. Os titulares de Dorival Júnior não venceram nenhum de seus últimos quatro jogos, derrota para o Fluminense, empates com o Internacional e, duas vezes, com o Corinthians.
A maior torcida do país é tão particular que reclamava da escalação de reservas, há 40 dias, e protestou contra a utilização de titulares, contra o Santos.
Há explicações.
Antes, a tentativa de perseguir o Palmeiras, ao escalar reservas no Allianz Parque e contra o Ceará. Agora, o medo de machucar os principais jogadores a quatro dias da final da Libertadores. Também passa pela esquizofrenia deste país, em que Dorival Júnior tem chance de ir para a seleção se ganhar os dois mata-matas ou de ser demitido do Flamengo se perder a final de sábado (29).
O Athletico jogou nove vezes e só venceu duas desde o empate com o Palmeiras que o classificou para a finalíssima. Isso pode indicar chances mínimas contra o melhor elenco da América do Sul, ou falta de concentração no Brasileiro enquanto se prepara para o jogo da vida de quem habita a Arena da Baixada.
Felipão não aceitará o descaso como resposta, no que pode ser o último ato de sua estupenda carreira.
Desde que desceu a serra de Caxias do Sul, para assumir o Grêmio, a bordo de seu Fusca verde, em 1987, até se tornar um dos três únicos técnicos a disputar três semifinais de Copa do Mundo, Felipão nunca aceitou o não como resposta.
O acordo é para que se torne diretor esportivo em 2023. Na prática, a final contra o Flamengo será seu último ato e pode levá-lo à terceira taça da Libertadores, inédita entre treinadores do Brasil.
O favorito é o Flamengo, pela capacidade de surpreender em tabelas de Gabigol, Pedro, Éverton Ribeiro e De Arrascaeta. Apenas não despreze as chances do rubro-negro paranaense, nem a pressão de Mario Celso Petraglia.
Ele sempre diz à Conmebol que seu clube foi roubado em 2005. Era ida e volta, mas o Furacão teve de jogar em Porto Alegre, por não ter 40 mil lugares em sua Arena.
Tão discutível quanto as finais em jogo único.
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