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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Discussão das nacionalidades dos técnicos retrata nosso subdesenvolvimento

Problema não é local de nascimento, mas decisões tomadas por dirigentes pressionados

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O Brasileiro chega à 23ª rodada com o quarto duelo entre os dois melhores da classificação. Na quinta jornada, o Corinthians liderava e venceu o Bragantino, segundo colocado. Palmeiras e Atlético-MG empataram quando ocupavam as duas primeiras posições, e os palmeirenses venceram os corintianos, em Itaquera.

Ao final de 22 rodadas, nenhum treinador brasileiro ocupou a liderança. Dorival Júnior é vice-líder, depois de Maurício Barbieri, do Bragantino, e Felipão, do Athletico.

O clássico Palmeiras x Flamengo, de Abel Ferreira contra Dorival, ocorre na semana mais tensa desde o início do sucesso dos portugueses aqui.

Abel Ferreira e Cuca, em um de seus duelos - Mauro Pimentel - 30.jan.21/Reuters

No Palmeiras, entende-se que Abel Ferreira não faltou com o respeito. Foi questionado sobre Cuca ter falado ferrolho –na verdade, a pergunta ao técnico do Atlético usou essa premissa. Na resposta, Abel se referiu à competência de Cuca e afirmou que o Atlético tinha muita gente por fora do bloco defensivo palmeirense. "Isso, para nós, foi mais fácil de controlar."

Não são poucos os que ouviram essa frase e a julgaram antiética. Não apenas treinadores. Jornalistas, também.

Parece mais justo dizer que Abel faltou com a esportividade ao afirmar que o São Paulo venceu o duelo da Copa do Brasil por sorte. Naquele dia, Rogério Ceni deu a resposta certa e elegante: "É a segunda vez que tenho sorte contra Abel". Referia-se à Supercopa, pelo Flamengo.

O argumento sempre vencerá a agressividade.

Mano Menezes foi irônico e inteligente, ao dizer que tomamos uma aula de Abel Ferreira. Jorginho, do Atlético-GO, foi agressivo. "É uma sacanagem falar que ele enxergou mais do que o Cuca."

Não foi exatamente esse o contexto.

A maior conquista de um treinador brasileiro nesta temporada é a de Dorival Júnior. Recuperou-se de uma doença grave, voltou a trabalhar pelo Ceará, deixou o clube em 12º lugar, duas posições acima do Flamengo, que ajudou a saltar da 14ª para a segunda colocação.

Dorival Júnior não grita; trabalha - Mauro Pimentel - 9.ago.22/AFP

A discussão das nacionalidades só retrata o nosso atual subdesenvolvimento. Portugal tinha 55% dos treinadores campeões vindos do exterior até 2006, ano em que o holandês Co Adriaanse venceu a Liga, pelo Porto.

Desde então, em 16 temporadas seguidas, só portugueses ganharam: Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus, André Villas-Boas, Vítor Pereira, Rui Vitória, Bruno Lage, Sérgio Conceição e Rubem Amorim. Nenhuma grande liga da Europa tem tanto sucesso de técnicos nativos nesse período. O italiano Carlo Ancelotti venceu na Inglaterra, na Alemanha, na França e na Espanha, o espanhol Guardiola ganhou o Campeonato Alemão e o Inglês, o português José Mourinho triunfou na Itália, na Espanha e na Inglaterra, sem falar de Jürgen Klopp.

Dorival Júnior não grita. Trabalha. Isso vale para Felipão, em sua oitava Libertadores e sexta semifinal, único brasileiro entre os candidatos ao torneio continental. Alexander Medina, uruguaio, dirige um time argentino e também luta pelo troféu sul-americano.

Medina fracassou no Inter e tem sucesso na Argentina, porque aqui o problema não é a nacionalidade, mas o fato de dirigentes tomarem decisões pressionados por torcedores e conselheiros.

A lista de estrangeiros guilhotinados no Brasil só aumenta. Em 18 meses, o Flamengo pagou R$ 22 milhões de multas rescisórias para demitir um espanhol, Domènec Torrent, um brasileiro, Rogério Ceni, e um português, Paulo Sousa –Renato Gaúcho caiu, mas não tinha indenização prevista em contrato.

"O Grito", o único de sucesso, é o quadro do pintor norueguês Edvard Munch. No Brasil, o que vai definir o mercado são a competência e a estratégia.

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