Rogério Caboclo está no Rio de Janeiro e diz que não sairá da Barra da Tijuca até voltar a se sentar na cadeira da presidência da CBF. O afastamento provisório de 30 dias se encerraria na terça-feira (6), mas a comissão de ética estendeu o período por mais 60 dias nesta quinta (1º).
Enquanto isso, a liga de clubes avança, conversa com investidores, cria comissão para definir ações estratégicas, planeja o fortalecimento econômico, e não político, da nova entidade.
Entre os 40 dirigentes que tentam formatar a liga, há quem não esconda que a crise da CBF ajuda. “Quanto pior, melhor”, diz uma das fontes.
Nos três meses possíveis para definir quem é o presidente da confederação, a liga pode se consolidar juridicamente, criar viabilidade econômica e até se aproximar de ter um CEO. A única chance de a liga funcionar é fugir da política clubista.
Um executivo trabalhará pelo produto Campeonato Brasileiro.
A curto prazo, portanto, pode valer a lógica de quanto pior, melhor. A médio prazo, não. Embora a seleção de Tite não tenha nada a ver com o problema, um eventual fracasso na Copa do Mundo aumentará o descrédito no futebol do Brasil, já abalado pelas derrotas dos últimos 20 anos e pela sucessão de escândalos.
Caboclo garante que nunca houve problemas com patrocinadores, nem mesmo quando José Marin foi preso na Suíça. Não se trata disso. A comparação da Europa com a América é cada vez mais feroz e frases tratando da outra modalidade praticada lá são a cada dia mais frequentes.
É discutível, mas seria melhor se a nova liga começasse acompanhada de boa campanha da seleção brasileira no Qatar.
O exemplo inglês, no entanto, mostra que a pirâmide se constrói da base para o topo. O alicerce da Inglaterra como seleção respeitável e candidata ao título da Eurocopa que decidirá em casa –se vencer a Ucrânia, em Roma– foi a Premier League.
A organização da Euro 1996, sob o slogan “Football is coming home”, foi uma tentativa de apressar o processo. Seria ótimo para a Premier League se os ingleses vencessem o torneio que sediaram e do qual foram eliminados pela Alemanha, nos pênaltis, com cobrança desperdiçada por Gareth Southgate.
Enorme coincidência que Southgate possa ser o treinador a dar o título sonhado e tenha eliminado a Alemanha, em Wembey, 25 anos depois. Se o English Team vencesse em 1996 e a Premier League estacionasse em organização, nada teria acontecido.
Ao contrário, a Inglaterra passou a competir em contratações com a Itália, quando Gianfranco Zola trocou o Parma pelo Chelsea, logo depois daquela Euro. O Manchester United conquistou a Champions League em 1999, o campeonato foi distribuído para o mundo a preço de degustação, tornou-se admirado e se firmou como o maior polo cultural de futebol do planeta.
A seleção inglesa é campeã mundial sub-17 e sub-20, chegou às semifinais da Copa, na Rússia, depois de 28 anos, e, se ganhar da Ucrânia, estará entre as quatro melhores da Europa pela terceira vez na história, a primeira em um quarto de século.
Em meio à crise, a seleção brasileira é a parte mais saudável da CBF. Deve ser protegida do fracasso institucional mesmo no caso de não vencer a Copa América, porque a prioridade é a Copa do Mundo. A seleção não tem nada a ver com o sucesso interno do futebol brasileiro, como mostra o exemplo inglês.
Primeiro se constrói o alicerce. O sucesso internacional vem depois.
Mesmo assim, ajudaria se o Brasil vencesse em 2022.
Para o nascimento de um novo e forte Campeonato Brasileiro, quanto melhor, melhor.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.