Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Mais uma evidência do fracasso educacional

Estudo de que Brasil participa pela primeira vez não nos traz novidades: estamos bem atrás da média global

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Avaliar políticas e projetos é prática essencial para promover avanços sociais. A avaliação fornece diagnósticos e aponta aprendizados e lacunas, oferecendo dados para decisões embasadas.

No campo da educação, a avaliação possibilita que professores entendam o nível de aprendizado dos estudantes, aprovando-o ou reprovando-os e identificando quais tópicos precisam ser mais bem abordados nas aulas. Além da avaliação feita em sala de aula, aquelas de larga escala são úteis para monitorar o desempenho de sistemas educacionais, permitindo entender onde estamos, para onde podemos ir e quais caminhos precisam ser ajustados.

Nesta semana, deu-se mais um passo na direção de aprender com dados de avaliações. Foram divulgados os resultados do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Timss), uma avaliação global sobre o desempenho de estudantes do 4º e 8º anos em matemática e ciências.

Foi a primeira vez que o Brasil participou do estudo, criado em 1995. E, como visto em outros indicadores, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e o Pirls (Estudo Internacional de Progresso em Leitura), os resultados não surpreenderam. Estamos muito atrás da média global.

O cenário é preocupante. No 4º ano do ensino fundamental, a média brasileira em matemática foi de 400 pontos, enquanto a média internacional foi de 503. Em ciências, alcançamos 425 pontos, para uma média global de 494.

No 8º ano, o desempenho foi ainda pior. Os números colocam o Brasil entre os últimos colocados no ranking global. Entre os 58 países avaliados, o Brasil ficou à frente apenas de Marrocos nos resultados do 8º ano.

Enquanto isso, países asiáticos se destacam, com mais de 90% dos estudantes atingindo o nível mínimo de conhecimento esperado. No Brasil, menos da metade dos estudantes atingem esse nível mínimo.

Além dos baixos desempenhos, o Timss trouxe dados que expõem as desigualdades educacionais no Brasil. Estudantes de escolas privadas e federais, bem como aqueles que estudam em áreas urbanas, apresentaram resultados superiores aos de escolas públicas estaduais e municipais, especialmente em regiões rurais. Há também uma relação entre bullying e desempenho escolar. Alunos que relataram sofrer bullying tiveram uma média em matemática bem abaixo daqueles que afirmaram nunca ou quase nunca passar por isso.

O diagnóstico geral é bastante claro. E o Brasil não vai mal apenas na comparação mundial: sequer nos saímos bem nos parâmetros nacionais. As metas do Ideb não são alcançadas e os resultados das avaliações nacionais mostram que estamos longe do ideal.

Avaliações como o Timss escancaram, ciclo após ciclo, o quão crítico é o cenário educacional brasileiro. Elas delimitam o escopo e o tamanho do problema, mas, sozinhas, não transformam a educação. Essas ferramentas precisam ser utilizadas de forma estratégica. O próximo passo é transformar o diagnóstico em ações concretas, com intencionalidade política e pedagógica.

A verdadeira transformação virá quando usarmos essas informações para mudar os processos educacionais. Só assim sairemos das últimas posições em todos os rankings.

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