Fui uma criança que sempre gostou de ler. Com uma mãe educadora, para qualquer tema aparecia em casa um livro relacionado: educação sexual, fortalecimento de autoestima, lidar com diferenças e desigualdades sociais são alguns exemplos. Em geral, eu assumia a responsabilidade de ler e contar o que eu tinha aprendido com os livros para o meu irmão, que era, à época, mais adepto das brincadeiras de rua do que da leitura.
Meu gosto pela leitura seguiu na adolescência. Sempre ficava animada com a lista anual de 10 a 12 paradidáticos a serem lidos na escola. Ao contrário de outros colegas, eu lia todos e mais alguns fora da lista, como a saga Harry Potter e o que eu encontrasse na biblioteca escolar.
Foi nesse ritmo imposto pela escola que clássicos da literatura brasileira viraram meus livros favoritos por muito tempo, como "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (Machado de Assis), "O Cortiço" (Aluísio Azevedo) e "A Hora da Estrela" (Clarice Lispector). Que me perdoem Lima Barreto e José de Alencar, mas "Triste Fim de Policarpo Quaresma" e "O Guarani" nunca figuraram entre os favoritos —deste último, confesso que só li um resumo para o vestibular.
Manter o hábito de leitura ao longo da vida envolve estratégias complexas. Mas, com certeza, começar cedo contribui para expandir o mundo da leitura.
O cenário da média dos estudantes brasileiros é diferente. Segundo dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), 2 em cada 10 estudantes do 5º ano do ensino fundamental afirmam que nunca ou quase nunca costumam ler livros que não sejam das matérias escolares. Ao final do ensino médio, esse número aumenta para 3 em cada 10.
É difícil ter o hábito de ler se os estudantes nem sequer conseguem entender o que está escrito. Dados recentes de avaliação internacional (Pisa) indicam que metade dos adolescentes brasileiros de 15 anos apresenta desempenho abaixo do esperado em leitura, ou seja, apenas identifica a ideia principal do texto.
Outras avaliações nacionais e internacionais também apontam que os estudantes estão muito aquém do que se espera que a escola ensine em termos de leitura. De acordo com dados do Saeb e níveis de desempenho definidos pelo Inep, mais da metade dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental é considerada não alfabetizada.
Mudar esse cenário envolve agir desde cedo. Atrasar a alfabetização de uma criança traz prejuízos que perduram, afetam sua escolaridade e toda a sociedade. Se queremos uma nação leitora, garantir alfabetização na idade certa para todos os estudantes é o mínimo a ser alcançado. A partir daí, há um mundo de livros para que descubram e se aventurem.
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