O final de semana abrigou as finais da Taça das Favelas pelo país, e o que eu testemunhei particularmente em SP foi uma goleada de emoções que transbordam o gramado, porque a TF é um gol para toda a vida.
Eu vi a juventude concentrada no Hotel Sheraton como grandes seleções o fazem, meninas e meninos com brilhos nos olhos de serem tratados como heróis e heroínas das suas respectivas favelas, e o são.
Transmitido ao vivo pela TV Globo e pelo SporTV, eu me desfiz em lágrimas ao ver o goleiro Klayver, da seleção da favela Risoleta Neves, vencedora das Taça das Favelas Piauí, aos prantos, mas com orgulho de colocar sua favela no horário nobre e expor como é difícil carregar o estigma de ser associado a notícias negativas. A TF é uma forma de responder e reconfigurar a imagem, transformando estigma em carisma.
A seleção da favela do Muquiço, no Rio de Janeiro, chegou em carro de bombeiros. Dessa vez não para apagar incêndio, mas para saudar os campeões. É mais do que futebol, aliás, ninguém precisa da Cufa na favela para jogar futebol, nossa atuação é para mostrar a potência da favela e que é possível construir outra perspectiva, revelando assim toda a potência e capacidade da favela em construir suas próprias soluções.
Juan Diego, da favela do Muquiço, dedicou o título para a avó, que o criou com outro irmão, mas que faleceu, e ele estava com a foto dela na camisa. Falou com o coração, porque muitos de nós, que crescemos sem pai e sem mãe, somos criados pelas nossas avós.
Em DF, PR, BA, GO, PI, RJ e SP, só para citar alguns dos 22 estados que estavam realizando suas finais, foi um show de emoção e demonstração de resiliência, colaboração e inventividade para produzir uma agenda positiva nas favelas do país.
Enquanto estavámos eu e Celso Athayde, seguindo a comitiva das seleções até a arena Barueri, a Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) bloqueou todas as ruas para que a comitiva passasse. O olhar das pessoas querendo saber quem eram aqueles jovens e a relação entre polícia e juventude, muitas vezes tensa e tumultuada, sendo ressignificada apontam que é possível construir possibilidades de diálogo e reconhecer que esses jovens saem mudados.
O subtenente Luna fez o seu relato em nome de toda a tropa: "O que vocês estão fazendo aqui não é só por esses jovens, mas também por todas as quebradas de São Paulo. Parabéns!". Ele disse ser do Itaim Paulista, na zona leste, o que prova que a frequência da favela tem sintonia mais forte do que nossas próprias instituições.
Vamos às finais nacionais em novembro, quando todas as seleções vão jogar o Favelão 2022. E que consigamos impactar e melhorar a vida das favelas do país. Obrigado a todos.
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